Tragédia ambiental por petróleo cru será acompanhada pela CCEEQ

Coordenador da Câmara de Engenharia Química de Pernambuco, Wellington Brito descreve a tragédia ambiental vivenciada pelo país como a maior do gênero

Brasília, 31 de outubro de 2019.

Durante a 4ª Reunião Ordinária da Coordenadoria Nacional das Coordenadorias de Câmaras Especializadas de Engenharia Química (CCEEQ), realizada desde terça (29), no plenário do Confea, o coordenador da Câmara no Estado de Pernambuco, eng. quim. Wellington Brito, informou à Equipe de Comunicação do Confea que, enquanto incidente, este é o maior derramamento ou vazamento de petróleo cru registrado no país.

“Há a informação recente de um vazamento de petróleo, possivelmente de outra origem, no Sul da Bahia, algo bem maior do que se anunciava até o início desta semana, e que poderá ir para o Sudeste, pelas correntes marinhas. Independente de sua origem e causa, até mesmo pelo debate político que isso está suscitando, apenas essa quantidade de petróleo que já chegou às praias do Nordeste se revela como a a maior tragédia ambiental do gênero no país e poderá provocar também muitos danos físicos e mentais à população”, considera o engenheiro químico, integrante da Comissão de Meio Ambiente do Confea.

O tema foi apresentado nesta terça aos demais participantes pelos coordenadores das câmaras nos Estados de Sergipe, José Augusto Machado, e do Ceará, João José Hiluy Filho, além do próprio representante pernambucano. “Apesar de toda a atenção que estamos em relação a este incidente, não foi possível ainda realizarmos uma investigação ‘in loco’, motivo por que não podemos apresentar ainda uma nota técnica, o que poderá vir a ser realizado ainda”, considera o coordenador nacional da CCEEQ, eng. plast. Luís Sidnei Barbosa Machado, coordenador da Câmara no Estado do Rio Grande do Sul.

Coordenador Nacional das Câmaras Especializadas de Engenharia Química, Sidnei Barbosa: situação está sendo acompanhada pela modalidade

Segundo o coordenador pernambucano, seu estado ainda sofre as consequências do incidente, que já atingiu mais de 1600 quilômetros de praias em toda a região. “Recolhemos até o momento 600 toneladas de resíduos, que estão sendo levados ao CRT, no município de Goiana, na região metropolitana de Recife. Esse é o procedimento adequado, promover a calcinação, ou seja, a incineração desse material, extremamente danoso à saúde da população”, comenta. Brito informa que o material, sem a areia retirada, é transferido para caldeiras onde evapora por calcinação. “É preciso acelerar a coleta e incineração desse material, evitando também ainda mais danos econômicos”, aponta.

Quantidades e riscos
Wellington Brito assegura que a tendência é que a quantidade de petróleo cru retirada do mar, inicialmente graças ao trabalho voluntário de pescadores e outros moradores das regiões atingidas, represente apenas uma pequena parte do que poderá vir às praias. “A quantidade poderá ser maior porque o menor petroleiro transporta, no mínimo, 11 mil toneladas de petróleo. Não há como prever que praias nordestinas possam ser atingidas”, informa, pontuando para a especulação inicial das autoridades brasileiras de que o vazamento possa ter sido provocado, criminosamente, por um navio-fantasma que teria abastecido na Venezuela.

Agora, diante da mancha verificada no Estado da Bahia, atribuída por satélite da Agência Espacial Europeia – AEE a uma extensão estimada inicialmente pela Universidade Federal de Alagoas em cerca de 55 quilômetros por seis quilômetros de largura – e mais recentemente, em 200 quilômetros quadrados, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro -  “se ela for levada para as praias do Sudeste, o dano será ainda muito maior”, diz Wellington Brito, informando que é pequena a possibilidade de que essa mancha – não reconhecida pela Marinha ou pelo Ibama como sendo de natureza petrolífera, mas sim decorrente de “nuvens ou ressurgências no mar" que podem ter levado a um diagnóstico impreciso pelo satélite da agência europeia – tenha causado o desastre na região Nordeste. “Se for constatada realmente essa natureza da mancha, as correntes devem levar esse petróleo para as praias do Sudeste”, afirma.

Em relação aos riscos envolvidos desde os primeiros contatos pelos voluntários “sem os materiais de segurança adequados” até o possível consumo de pescado afetado, o engenheiro químico destaca que há “efeitos danosos a todos os que estão tendo contato com o material, inclusive pela respiração próxima, devido à presença de voláteis, o que varia conforme a temperatura e o tempo de exposição”.

Composição química e características danosas
O coordenador da Câmara de Engenharia Química do Estado de Pernambuco acrescenta que o petróleo é um hidrocarboneto, cujas variações de composição deveriam ser relevadas pelas autoridades brasileiras. “As características elementares não mudam muito, todos, independente da origem, têm a mesma composição, fundamentalmente, hidrocarbonetos, benzeno e outros voláteis que, após a transformação pelas indústrias, tornam-se combustíveis e lubrificantes”, esclarece.

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Ele aponta que, devido à sua densidade, o petróleo permanece até cerca de um metro e meio abaixo da superfície, dificultando sua identificação visual. “Sua densidade permite que as correntes marinhas  levem-no constantemente à praia, mas também podem levá-lo a outras áreas, justificando essa variação de locais onde o petróleo vem sendo encontrado, ao longo do litoral nordestino. À medida em que se desloca, ele perde os voláteis, gases, permanecendo, aparentemente, apenas o  hidrocarboneto, que proporciona aquela densidade mais espessa que estamos vendo nas praias. Infelizmente, os voláteis permanecem e causam danos ainda”, descreve.

Wellington Brito apresenta características do petróleo cru encontrado no Nordeste e suas consequências para a saúde e o meio ambiente

Segundo Brito, a decomposição desse material demanda séculos, em ambiente natural. “Pode demandar mais do que a nossa existência. Em aterro comum, mesmo soterrado, o petróleo cru provoca danos físicos, mentais e ambientais, afetando até mesmo os lençóis freáticos”, define, apontando danos ao cérebro e à pele das pessoas atingidas. “Os danos só não são maiores àqueles verificados diariamente, em todo o Brasil, diante da imensidão de esgoto lançado aos mares e ao oceano, por emissários, afetando diretamente os peixes e víveres marinhos”, ressalta.

Papel da Engenharia Química
“A análise da condição laboratorial, das características químicas do petróleo e do que ele pode causar é uma atribuição do engenheiro químico”, destaca Wellington Brito. Para ele, a área pode atuar multidisciplinarmente, em consonância com engenheiros ambientais, engenheiros de petróleo, engenheiros de pesca, engenheiros de alimentos e ainda com biólogos, bioquímicos e outras áreas, para buscar identificar as características e minimizar os danos provocados pelo petróleo à população e ao ambiente.

“Precisamos ter o conhecimento do produto, tanto de forma qualitativa, como quantitativa, o que foi coletado”, diz, esperando manter-se informado para que, juntamente com os demais colegas da Coordenadoria Nacional de Câmaras Especializadas de Engenharia Química e com os demais integrantes da Comissão de Meio Ambiente do Confea, possa esclarecer aos profissionais e à sociedade os melhores encaminhamentos para a redução dos efeitos provocados por esta tragédia.

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea

Fotos: Marck Castro/Confea