Mulheres apresentam propostas para garantir a valorização da profissão

Sexta-feira, 3 de setembro de 2004.
Coordenadora da mesa redonda "Valorização das Profissões e a Questão da Mulher", realizada no segundo dia do 5º Congresso Capixaba de Profissionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia - 5º Concea, Arquiteta Patrícia Cordeiro, apresentou uma palestra com dados referentes às mulheres, fazendo referência a sexo, idade, vínculo e a participação da mulher no Sistema Confea/Crea.

A exposição contribuiu para que os participantes do evento refletissem sobre a participação das mulheres
no mercado de trabalho.
Segundo ela, 23.308 é número total dos profissionais registrados no Sistema Confea/Crea. Dessa quantia, apenas 2.494 são do sexo feminino, o que eqüivale a apenas 10,70% de participação. Das 2.494 mulheres, apenas 736 possuem algum vínculo empregatício. Outro número expressivo indica que 42% das mulheres dos Sistema estão inseridas na modalidade civil, seguido da modalidade de arquitetura e urbanismo.
Patrícia também fez uma retrospectiva da participação feminina no cenário nacional, lembrando que a mulher há pouco tempo não tinha direito a voto e nem a ser candidata, não trabalhava fora de casa e sofria inúmeros preconceitos. Explicou que elas conseguiram romper com muitas barreiras, mas que ainda há muito o que conquistar.
A Deputada Federal capixaba Iriny Lopes, que também participou da discussão, iniciou sua apresentação falando sobre as propostas de valorização das profissões e a questão da mulher. Iriny alertou para dois aspectos: o primeiro é sobre as vagas do ensino público e particular, que já estão sendo preenchidas pelas mulheres; mas por outro lado, quando as mulheres se formam e saem para trabalhar, o número de vagas para emprego não está acompanhando, e os espaços profissionais para as mulheres se apresentam de forma inferior se comparados aos dos homens. O segundo aspecto levantado pela deputada é com relação a participação das mulheres em grupos sociais. "Temos que dar nossa contribuição para melhorar a qualidade de vida da sociedade; afinal, somos a maioria, dominada por uma minoria. Ela identificou algunsdos mais significantes problemas sociais como a violência sexual e o assédio moral".
A segunda expositora, Deputada Estadual Brice enfatizou em sua fala a importância do tema do 5º Concea, que é a Sustentabilidade no Campo e na Cidade. Para ela, há inúmeros desafios a serem enfrentados, como promover desenvolvimento por meio do fortalecimento das vocações produtivas locais, preservando as identidades culturais, contribuindo para a participação social nas decisões e respeitando o meio ambiente. "É preciso debater o tema para enfrentar problemas ocasionados pela globalização como, por exemplo, os grandes avanços tecnológicos com a exclusão a população a esses meios, e a redução de políticas públicas como forma de distribuir a riqueza".
Quanto a questão da mulher, a Deputada acredita na necessidade de se superar a questão do gênero, o abismo entre dominantes e dominados e dessa lógica competitiva. Brice associa a história da mulher a história de superação, de luta, "no peito e na raça", do que está instituído. Lembrou que a primeira mulher formada em engenharia civil, se formou no ano de 1917, no Rio de Janeiro e as primeiras mulheres formadas em arquitetura, se formaram entre 1929 e 1931 em São Paulo.
A representante da Cooperativa de Trabalho Multidiciplinar (Coopmult) e filiada a Sindiupes, Erineusa Maria da Silva, atentou para dados significativos com relação a participação das mulheres no mercado de trabalho. Segundo ela, a participação da mulher na Engenharia manteve-se em torno de pouco mais de 10% durante a década de 90. Os dados também indicam que 14, 6% dos empregos para engenheiros eram femininos em 1990; 11,6% em 1995; 11,9% em 1997; 12,8% em 1999; e 13,5% em 2000. Erineusa fez uma observação com relação aos espaços públicos utilizados pelos homens. As quadras, os calçadões, as praças, são, na maioria das vezes, utilizadas por homens. A representante da Coopmult convocou as mulheres das áreas de Engenharia, Arquitetura e Agronomia para discutirem sobre como construir uma sociedade onde as mulheres também possam aproveitar os espaços oferecidos.
Inês Simon, representante do Sindijornalistas apresentou uma palestra baseada numa coletânea sobre a "Igualdade de Gênero no Mundo do Trabalho", da editora Cortez. Inês falou da necessidade de superar as desigualdades de gênero e de que para isso é necessário ampliar as discussões e implantar as ações na rotina das instituições, e não apenas em congressos e seminários. A proposta da coletânea é mostrar que a situação das mulheres tem melhorado muito, que o movimento social bem sucedido e articulado contribui com o desenvolvimento e com a conquista da mulher na sociedade. "Apesar das mulheres terem conseguido romper com inúmeros preconceitos e ter ido a luta pelos seus direitos, os homens não fizeram o contrário, não assumiram seus filhos, e as responsabilidades domésticas que, até então, eram exclusivas delas", concluiu.
A Socióloga e Engenheira Agrônomo Alméria Vitória Saraiva Carniata, veio ao Congresso representando a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros - Fisenge. Ela abordou o tema "Igualdade de Oportunidades para Homens e Mulheres da Área Tecnológica". Ela contou sobre o trabalho da mulher no Brasil entre as décadas de 50 e 90. Falou da sua evolução, da divisão sexual do trabalho ? a presença da mulher no mercado de trabalho se dá por condições de emprego de profissionalidade extremamente heterogêneas - e das categorias sócios profissionais ? trabalhadoras que ocupam postos de trabalho e funções qualificadas e das trabalhadoras que ainda não são qualificadas. Resumiu sua fala alertando a sociedade da necessidade de se redesenhar pautas para a promoção da igualdade e oportunidades no mercado de trabalho.
A representante da OAB-ES, Ivone Vila Nova, foi a sexta expositora e levantou os ânimos das mulheres e homens presentes ao defender os direitos adquiridos pelas mulheres e que são exclusivos delas, como por exemplo, o de se aposentar em menos tempo que os homens. Ela reforçou o que todas as mulheres anteriores disseram e complementou seu discurso abordando a necessidade de se respeitar as diferenças e a individualidade.
A mesa redonda foi encerrada com a reflexão da Cientista Política e Antropóloga Sônia Missagia Mattos, que leu o poema da artista capixaba Elisa Lucinda, que resume a abordagem feita pelas mulheres que falaram anteriormente, e que remete ao início do show apresentado pela Companhia de Teatro Terra, momento em que houve sensibilização dos participantes, que pararam para pensar melhor a questão da mulher. Sônia incrementou sua apresentação contando sua experiência na pesquisa que desenvolveu no Vale do Jequitinhonha, lugar onde foi estudar o comportamento das mulheres que trabalham com cerâmica e acabou percebendo que aquelas mulheres contavam um pouco da história das mulheres do nosso país.
Da Equipe da Assessoria do Crea/ES