GT Abalos Sísmicos em Maceió apresentará conclusão de trabalhos

Em última reunião, GT Abalos Sísmicos de Maceió aponta responsabilidades para os eventos geológicos enfrentados por bairros da capital alagoana desde o ano passado

 

Brasília, 6 de novembro de 2019.

A crise geológica enfrentada pelos bairros de Pinheiro, Bebedouro e Mutange, em Maceió, com rachaduras de prédios e logradouros e a evacuação de cerca de 10 mil famílias, conta agora com o posicionamento do Grupo de Trabalho Abalos Sísmicos em Maceió, do Confea. Com a preparação de seu relatório, o grupo se reuniu pela última vez na última sexta-feira (1º).


Apesar de não ser definitivo, o posicionamento atual do GT aponta para a extração de sal-gema desenvolvida pela empresa mineradora atual, a Braskem, e suas antecessoras como possível causa dos eventos de março do ano passado, para a necessidade da remoção definitiva dos moradores e urbanização dos bairros com parques e áreas verde. O relatório final dos trabalhos será apresentado ainda neste ano em sessão plenária do Confea.

“À luz dos dados que temos hoje, a extração minerária do sal-gema pode ser a causadora dos fenômenos geológicos nos bairros de Maceió, principalmente por possível negligência no monitoramento dos poços exploratórios, inclusive os desativados. Nosso principal subsídio é o relatório do Serviço Geológico do Brasil – CPRM, que acompanha a situação desde 2018, e as exposições técnicas nas reuniões e workshops realizados em Maceió. O sal tem propriedades e efeitos muito desconhecidos. Existe um fenômeno chamado halocinese que é a troca de íons entre o sal, que provoca fluência, o movimento do sal, que tende a expandir ou se comprimir. No caso de Maceió, teve cavidade de mina que se deslocou 200 metros para cima do ponto inicial, inclusive, para fora da camada do sal”, descreve o conselheiro federal Waldir Duarte Costa Filho, geólogo coordenador do GT. A Braskem contesta as decisões.

Com assessoria da geóloga Sílvia Cunha, o grupo é formado ainda pelo conselheiro federal eng. prod. mec. Zerisson de Oliveira Neto (adjunto) e pelos especialistas geol. Nivaldo Bosio, eng. minas Regis Wellausen e eng. minas Wenner Amorim.

Pré-dolinamento e ações sugeridas
“Participamos de uma audiência pública no final de março no Senado e analisamos o relatório da CPRM e as exposições das palestras nas reuniões em Maceió, identificando uma situação de pré-dolinamento. No dolinamento em si, o terreno afunda, como aconteceu, também por exploração de sal-gema, na Ilha de Itaparica, na Bahia, felizmente, sem danos materiais, nem de vida”.


Waldir esclarece que os dados sugerem um processo de dolinamento ainda não concluído. “Aqui vemos que uma parte da área tende a afundar e a outra a trincar. Ou seja, não é o dolinamento completo. Mas já são indícios de que pode ocorrer um desastre maior lá. Por isso, a solução indicada seria o realocamento das famílias e a utilização daquele terreno como áreas verdes e parques. Também sugerimos que a exploração continue a ser feita, mantendo as condições de equilíbrio. Eles tinham muitas minas fechadas e, com a movimentação de sal, uma mina atingia a outra, expandido as suas cavidades. As quatro minas em operação há até poucos meses, assim com as 31 já desativadas, devem ser monitoradas minuciosamente. Mas, mesmo que paralisem tudo, é necessário manter o monitoramento, até com maior frequência”.

Presidente Joel Krüger acompanhou o encerramento dos trabalhos do GT


A possibilidade de que obras sejam feitas para conter os danos causados pela atividade mineradora também foi considerada pelo GT. “É possível, mas isso requer um investimento muito grande e seus efeitos podem não corresponder com as expectativas. Somos da opinião de que a exploração deveria ser continuada, e os moradores deveriam ser remanejados, sendo feita uma urbanização do bairro do Pinheiro. Seria mais perigoso a mineração continuar parada, do que continuar a explorar”, disse o geólogo pernambucano, lembrando que as atividades estão paralisadas desde meados deste ano, por exigência do Ministério Público e da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Perspectivas
Ainda conforme o coordenador do Grupo de Trabalho Abalos Sísmicos em Maceió, há a perspectiva de que os estudos por sonares, ainda em desenvolvimento pela mineradora, sejam concluídos até dezembro próximo. “Os sonares identificam a estrutura da caverna, sua forma e seu volume. Há análises de sonar antigas para comparar. Essa análise era para ser aplicada anualmente, e estava sendo feita esporadicamente. Existem minas em que não se sabe onde estão as suas cavidades”, descreve Waldir Duarte.


Apesar de não haver conseguido identificar completamente a responsabilidade técnica pelo quadro, um dos objetivos do GT, o coordenador considera que o relatório poderá contribuir para os novos rumos das análises. “É possível que um quarto bairro seja afetado, o Bom Parto, vizinho a Mutange. Não conseguimos atingir completamente o objetivo de identificar a responsabilidade técnica porque a mineradora atual ainda está realizando seus estudos”, comenta.

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea