Brasília, 21 de agosto de 2025.
O engenheiro florestal Luciano Pizzato, um dos maiores defensores e divulgadores da ciência florestal no Brasil, faleceu há sete anos – justamente no Dia da Floresta, uma coincidência que simboliza a essência de sua vida e obra. Pizzato dedicou-se incansavelmente à causa florestal, sempre lutando pela valorização da classe e pela aplicação rigorosa da ciência e da técnica na conservação e no uso sustentável das florestas brasileiras.
Neste ano, as Honrarias do Mérito — a mais alta condecoração concedida pelo Sistema Confea/Crea — prestam uma homenagem in memoriam ao engenheiro florestal Luciano Pizzato. Com uma trajetória marcada pela inovação, pelo compromisso ambiental e pelo serviço público, Pizzato foi pioneiro na formulação de políticas sustentáveis e na defesa da conservação com uso consciente dos recursos naturais. A homenagem celebra a memória de um profissional cuja vida foi dedicada à Engenharia a serviço da natureza.
Filho de madeireiro e herdeiro de uma tradição familiar voltada à produção de compensados e madeira, Luciano Pizzato encontrou na Engenharia Florestal o caminho para aliar o conhecimento técnico à sustentabilidade. Sua formação lhe permitiu ir além da herança familiar: buscou compreender como manejar a floresta com inteligência, respeito e equilíbrio. Adotou como lema a frase "conservar é saber usar", uma ideia que norteou toda a sua atuação profissional e pública. Foi essa visão que o levou a implementar o primeiro plano de manejo sustentável em floresta de araucária aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), iniciativa que lhe rendeu o Prêmio Nacional de Ecologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1986.
No início da carreira, sua experiência no setor privado, dentro da empresa da família, serviu como base para a busca de soluções sustentáveis e inovadoras. No entanto, foi no serviço público que Pizzato encontrou sua principal arena de transformação. Como diretor de Parques Nacionais do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal — órgão que mais tarde daria origem ao Ibama — liderou a criação de dez unidades de conservação federais. Entre elas, destacam-se os Parques Nacionais de Fernando de Noronha (PE), Chapada dos Guimarães (MT) e Superagui (PR). Também implantou o Conselho Nacional de Fauna, reativou o Conselho de Valorização dos Parques e participou ativamente do Programa Nossa Natureza, que culminou com a criação do Ibama. Na estruturação do novo órgão, Pizzato teve papel decisivo e coordenou o primeiro programa emergencial de combate às queimadas na Amazônia, em 1989. Foi ainda o autor da proposta que originou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), marco legal da política ambiental brasileira.
A atuação de Pizzato no Legislativo foi marcada por mais de duas décadas como deputado estadual e federal (1989–2015). Participou de mais de 1.200 audiências públicas, presidiu e relatou cerca de 40 comissões especiais sobre temas socioambientais e energéticos, e representou o Brasil em diversas missões técnicas e diplomáticas no exterior. Também atuou como observador internacional em eleições no Paraguai e na Guiné-Bissau.
Entre os projetos de destaque estão a ampliação dos limites de unidades de conservação e a criação, por iniciativa parlamentar, dos Parques Nacionais Saint-Hilaire/Langue e Marinho da Ilha dos Currais, ambos no Paraná. Também foi o idealizador da Lei Estadual de Florestas do Paraná, que inspirou a Lei nº 11.054/95. Como relator, deixou sua marca em legislações fundamentais como a Lei de Crimes Ambientais, a Lei dos Resíduos Nucleares, o novo Estatuto do Índio e a Lei da Mata Atlântica. Pizzato criou o projeto Jogue Limpo, que incentivou o descarte correto de lixo nas praias e virou política pública nacional. Também idealizou o Programa de Recifes Artificiais Marinhos (RAM), o maior da América Latina, com impacto positivo na fauna marinha.
Por suas realizações, recebeu dezenas de condecorações e menções honrosas, incluindo as mais altas distinções da Marinha, Exército, Aeronáutica e Estado-Maior das Forças Armadas. Foi agraciado com a Ordem do Rio Branco do Itamaraty e com a Ordem de Cavaleiro da República da Itália. Participou de mais de 30 missões oficiais ao exterior, inclusive em zonas de conflito militar, como Kuwait, Angola e Bósnia.
Para Pedro Pizzato, filho de Luciano, a homenagem do Sistema Confea/Crea reconhece o legado de seu pai, marcado por dedicação, conhecimento técnico e defesa da Engenharia Florestal como pilar de um país mais sustentável. “Meu pai lutou para que a Engenharia Florestal tivesse o respeito que merece e fosse integrada de forma estratégica a outras áreas das políticas públicas. Essa homenagem é um tributo a sua trajetória e ao papel transformador que a Engenharia pode ter na construção de um país mais sustentável.”
O legado de Luciano Pizzato vive em políticas e projetos que unem desenvolvimento e sustentabilidade. Ao homenageá-lo, o Confea/Crea destaca sua trajetória exemplar e o papel estratégico da Engenharia Florestal para o país.
Fernanda Pimentel
Equipe de Comunicação do Confea