Orlando Saliba

A família desejava que Orlando Saliba seguisse a tradição de negócios, mantida em torno do comércio de couros, entre Europa, África e Belém do Pará. Mas os contatos com as carências da população brasileira acabaram revertendo os planos do patriarca libanês. “Eu não tinha essa tendência comercial”. Melhor para a saúde pública do país. 

Primeiro, em atuações nas regiões Norte e Nordeste, ainda enquanto se formava em Engenharia Civil, na capital paraense. Depois, como engenheiro sanitarista, atuando em todo o Estado de São Paulo, durante mais de cinco décadas. 

As dificuldades sanitárias do povo sensibilizaram o jovem engenheiro a ponto de ele dar continuidade às atividades de saúde pública iniciadas nos anos 1950, ainda como estudante de Engenharia Civil, no Serviço Nacional de Malária e de Febre Amarela, no Departamento de Endemias Rurais e na Fundação de Serviço Especial de Saúde Pública, do Ministério da Saúde.

“Comecei a trabalhar no serviço da malária, convivi com os operários. Com isso, percebi a dificuldade de saúde, vi as necessidades da população pobre. No Pará, Piauí e Maranhão, dávamos o sal cloroquinado, dentro da iniciativa do ministro da Saúde, Mário Pinotti. Cheguei a andar seis léguas de carro de burro, no Maranhão”. 

O título de engenheiro sanitarista seria a consequência natural, ao estudar com os “Papas da Engenharia Sanitária”, mestres da lavra de José Martiniano de Azevedo Netto. Mas Orlando Saliba ainda permaneceu por dois anos no Maranhão, até poder dedicar-se plenamente aos desafios da sua nova formação, já em São Paulo.

De volta, Orlando Saliba teria outro compromisso de vida: casar-se com a odontóloga, também filha de libaneses, Nemre Adas Saliba. Haviam se conhecido no mestrado e traçariam juntos suas carreiras na área de Odontologia Social da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araçatuba, cidade onde celebraram suas Bodas de Ouro, em março deste ano. E onde hoje continuam se dedicando a projetos de extensão, artigos, filhos e netos. Por sinal, em décadas de amor à saúde coletiva, quatro filhos seguiram a Odontologia e um, a Medicina.                     

“Quando dava aulas, dizia que quem trabalhasse na saúde pública não ia ficar rico, mas se sentiria realizado”, comenta o engenheiro, que faz questão de se definir engenheiro sanitarista, depois de gestões à frente do Departamento de Águas e Esgoto, responsáveis pelo tratamento integral de água e esgoto coletado de Araçatuba e outras cidades. “E me considero também um professor titular, que lecionava as partes de estatística e de saneamento, embora na faculdade de Odontologia”. 

Um mestre que ainda oferece seus conhecimentos, voluntariamente, aos alunos do mestrado e do doutorado em Odontologia Sanitária da Unesp. E cuja competência em estatística o fez ainda pioneiro no uso da informática em seus campos de atuação, como ao realizar o Primeiro Plano Regional de Saneamento Básico da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo ou ao oferecer assessorias para diversas prefeituras.

Com essa mentalidade à frente de seu tempo, Orlando Saliba acompanha a evolução tecnológica da Engenharia Sanitária, acreditando que os desafios ainda presentes possam ser superados, sobretudo nas escolas, habitações e no meio ambiente. “Se diminuirmos as desigualdades das regiões Norte e Nordeste, teremos um país forte. A população trabalha e não precisa de esmola”. 

Com esse espírito público inabalável, Saliba se revela “muito emocionado” com a homenagem do Sistema Confea/Crea e Mútua. “Considero um reconhecimento ao trabalho que fiz, sem jamais esperar que fosse lembrado. Eu me sinto honrado”.

Por Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea