Sandoval da Silva Pinheiro

Perfil

 Mesmo sabendo que a vida de geólogo é árdua, exige a lida direta em campo - o que significa ficar longe da família semanas a fio -, e que em determinadas regiões fica-se exposto a doenças, como a malária, por exemplo, que contraiu 13 vezes, Sandoval da Silva Pinheiro manteve a decisão: sua vida profissional seguiria os caminhos da Geologia, levassem eles para onde fosse. E assim foi.

Para a família - esposa Beatriz Salerno Pinheiro e os  três filhos -, o maior legado de Sandoval “foram os exemplos de honestidade, caráter e sinceridade”.

Quem conta sobre ele é Beatriz Salerno Pinheiro, professora das séries iniciais da alfabetização e que hoje correspondem as do Ensino Fundamental, com quem Sandoval foi casado por 40 anos e teve três filhos.

“Ele adorava o que fazia. Vivia no mato, e quando chegava era amoroso com todos nós. Caseiro, gostava de ficar com os filhos. Seu maior legado “foram os exemplos de honestidade, caráter e sinceridade”.

 Tão amoroso, procurou dissuadir qualquer intenção dos filhos em seguir a profissão. Beatriz lembra que “ele queria proteger dos riscos que o geólogo tem que enfrentar para cumprir seu trabalho. Só de malária, Sandoval teve 13”!

A dedicação profissional tornou-o uma referência na Geologia de Roraima. Embora não tenha sido professor, repartiu seus conhecimentos com todos que o consultavam.

Para o também geólogo Sílvio Roberto Riker, 68 anos, que ainda trabalha na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), com sede em Manaus (AM), e atuou com Pinheiro em dois projetos, Catrimani-Mani-Uraricoera e Roraima Central, “ele era uma pessoa excepcional, um profissional excepcional. Isso sintetiza tudo”. 

Por 37 anos, Pinheiro ou “chefe” como era chamado, ocupando ou não o cargo, trabalhou com o também geólogo Miguel Martins de Souza, que aos 72 anos relata: “Recém-formados, nos conhecemos na CPRM, em Manaus. Nossas famílias ficaram amigas. Ele se tornou o geólogo que mais conhecia e entendia a geologia de Roraima. Era o melhor em termos de Geologia e deixou seus ensinamentos nas centenas de mapas que produziu”. Ao mesmo tempo, Miguel ainda lamenta o fato de Pinheiro não ter dado “ouvido” aos amigos que insistiam que ele reunisse seus conhecimentos num livro.

“Um profissional muito bom de se trabalhar junto. Como pessoa, um grande amigo. Tanto fazia se o convite fosse para trabalho, festa ou cachaça, para o que você quisesse, Pinheiro era pau para toda obra, como se diz”, completa Miguel.

Pinheiro era ousado. Uma de suas principais aventuras descendo de rapel foi mostrada numa matéria do Fantástico (programa de TV), em 1975. “Mas essa fita se apagou”, lamenta Beatriz.

Mas é de Nelson Joaquim Reis, que também trabalhou com Pinheiro na CPRM que vem um relato esclarecedor sobre a personalidade de Pinheiro:

“Trabalhávamos no bairro da Cachoeirinha em um prédio alugado que se ajustava teimosamente ao número de funcionários e a projetos nas variadas áreas de atuação da empresa. Época de projetos de mapeamento geológico executados em grandes regiões, invariavelmente ínvias. Época de reconhecimento e de detalhamento em uma escala maior do que aquela do Radambrasil ao milionésimo.

Foi por esses tempos que tomei conhecimento da participação do Pinheiro nas primeiras fases do projeto Roraima e de sua passagem pelo Radam, quando foi o responsável pela folha Pico da Neblina (Pinheiro et al., 1976), além de colaborador em outras folhas na Amazônia.

Pinheiro era “cancheiro” e já colhia experiência no trato da logística e infraestrutura. Acampamentos, operações com helicópteros, deslocamentos fluviais em rios desafiadores, especificidades na aquisição de material, cálculos de consumo de combustível e orçamentário, aberturas de picadas na selva, contratação de auxiliares de campo, contatos com aborígenes, enfim, tudo aquilo que a CPRM vivenciava na sua trajetória dos anos 70. E no ano de 78 se dava o início de um projeto desafiador em Roraima, o projeto Catrimâni- Urariquera (Pinheiro et al., 1980). A atividade se lançava em todo o setor oeste do Estado, em uma região geologicamente pouco investigada e com característica de elevado grau de dificuldade para o Mapeamento Geológico. Incluía a área indígena Ianomâmi, na época, em demarcação. Juntando-se a um grupo de jovens recém-chegados do sul-sudeste do país, o qual me incluía, Pinheiro trouxe sua experiência no encaminhamento das ações como chefe

de Projeto...”. 

Pinheiro era assim mesmo, o mundo com o qual se identifica era repleto de estereoscópicos, Old Delft e schetchmaster, preparação e montagem de overlays e  traçado de drenagem e de fotointerpretação. De cada dia, fazia um novo aprendizado, fosse através de excursões como a feita ao longo da estrada Bragança-Vizeu, com objetivo de visitar os afloramentos de rochas metamórficas, ou do levantamento geológico ao longo de um trecho de praia da Ilha Fortaleza, e ainda da visita ao calcário de Capanema, no Pará.

Cursos de curta duração também faziam parte da agenda de desafios a enfrentar e lá ia Sandoval a saber mais sobre geologia interguianas e geologia econômica,  sobre  estanho, fácies e ambientes deposicionais terrígenas, de lateritos, para saber mais, aprender mais, buscar mais, refinar a identificação da riqueza mineral do solo brasileiro. 


Atividades Exercidas

- Aerofotogeologia,  na Petrobras Região Norte (Renor), Secção de Fotogeologia.  Treinamento em Fotogrametria e Fotogeologia, realizado em área da Bacia do Maranhão (1970); 

- Geomorfologia e Aerofotogeologia para produção de fotografia aérea para fotointerpretação para os Laboratórios do Instituto de Desenvolvimento Econômico Social do Pará, e do Instituto de Desenvolvimento Social do Planalto (Idesp), participação nos projetos Rio Fresco e Tocantins (1970);

- Geólogo de minérios da Rondônia Ltda., com trabalhos de pesquisa de depósitos eluvio-aluvionares e jazidas primárias de cassiterita, incluindo sondagem em Sonda Banka (1971);

- Geólogo da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Agência Manaus, pesquisando recursos minerais para os seguintes trabalhos: “Projeto Aripuanã-Sucunduri”, reconhecimento geológico e prospecção geoquímica nas bacias dos rios, Roosevelt, Juma e Aripuanã; “Projeto Roraima”, mapeamento geológico sistemático na escala 1:250.000 das folhas NA-21-V-A, NB-20-Z-B, BV-20-Z-D, NA-20-X-C e NB-21-Y-C (1971-1974); 

- Trabalhos realizados no campo do “Projeto Radam”: Reconhecimento geológico ao longo dos rios Trombetas, Papurí, Uaupés, Uneiuxi e Teá;

- Cheques de pontos com helicópteros, nos interflúvios de rios nas folhas AS.21 Santarém, com base na extinta Companhia Siderúrgica da Amazônia (Siderama) (1974);  

- Reconhecimentos geológicos realizados no Amazonas nas rodovias: AM-10 (Manaus/Rio Preto de Eva); AM-70 (Cacau-Pirera-Manacapuru); AM-450 (Tarumã-Ponta Negra), e estrada Cláudio Mesquita (1975-1976);

– Reconhecimentos geológicos realizados em Goiás:  rodovias BR-153 (Belém/Brasília), no trecho Gurupi/Colina de Goiás; GO-262 a partir da BR-153, até Monte do Carmo e até a Lagoa da Confusão; GO-370 a partir da BR-153 até Araguacema; GO-376 desde a BR-153 até Conceição do Araguaia, no Pará (1977);

- Cheques de pontos em helicóptero, no interflúvio Xingú-Araguaia, abrangendo as folhas SC.22-VD: SC.22-XC; SC.22-YB; SC.22-ZA; SC.22-ZC; SC.22-YD, (1977); 

- Participação parcial nas atividades do Projeto Garimpo (1981-1982);

- Participação parcial no Projeto Uatuma-Jatapu. Mapeamento geológico na Região Nordeste do Estado do Amazonas  (1982-1983).

Cargos Ocupados

- Chefe do Projeto Catrimani-Uraricoera, Mapeamento geológico no Oeste do Território Federal de Roraima (1978-1981);

- Chefe do Projeto Rio Vivenda, prospecção aluvionar para ouro nos aluviões do rio Quino, através de sondagem Banka (1984-1985);

- Chefe do Projeto Quino, de prospecção aluvionar para ouro e diamante nos aluviões do rio Quino, através de sondagem Banka, e abertura de cartas. Estudo de Litogeoquímica para ouro em sedimentos em rochas pertencentes ao grupo Roraima, para a Companhia de Desenvolvimento de Roraima (Codesaima) (1983-1985);

- Chefe do Projeto Caburai, Mapeamento geológico em rochas Pré-Cambrianas do Grupo Roraima. 1: 100 000, 1985.


Feitos Relevantes 

Autor e/ou coautor dos seguintes trabalhos publicados: “Relatório Final ARIP-Sucunduri”; “Mapeamento 1:250 000”, pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM); “Relatório Final Projeto Roraima”; “Projeto Radambrasil,  Folhas NA.20”; “Mapeamento 1:250 000” (1974); “Pico da Neblina”, “Mapeamento 1:000 000” (1975); “Mapeamento 1:000 000 (1977); “Manaus AS. 21”, “Mapeamento 1:000 000” (1977); “Santarém”, “Mapeamento 1:000 000” (1976); “Relatório Final Projeto Catrimani-Mani-Uraricoera”, “Mapeamento 1:250 000” (1981); “Sinopse Metalogênica do Território Federal de Roraima” (1980); “Primeiras Notícias de Ocorrências de Sedimentos  Carronosos no Grupo Roraima”, “Estatigrafia” (1980), publicado no XXXI Congresso Brasileiro de Geologia;  “Suíte Intrusiva Surucucus e a Reativação Parcuazense”,  “Petrologia” (1981), publicado em 1° Simpósio Amazônico Puerto Ayacucho-Venezuela; “Levantamento Geológico no Oeste de Roraima”, “Estratigrafia” (1984); “Subdivisão litoestratigráfica da formação Auapi-Grupo Roraima - Território Federal de Roraima”,  publicado no 2° Simpósio de Geologia da Amazônia.