Parlamentar defende transposição das águas do rio São Francisco

Brasília, quinta-feira, 13 de dezembro de 2001. "Hoje a demanda de água no Nordeste é bem maior
do que a soma de todas as fontes fornecedoras. E mantidas as coisas como estão, nunca mais o Nordeste setentrional fechará o seu déficit hídrico". A afirmação é do deputado federal Marcondes Gadelha (PFL/PB), feita durante reunião plenária dos Conselheiros Federais do Confea. O parlamentar foi convidado pelo Conselheiro Federal, eng.º químico Alberto de Matos Maia e pelo coordenador do Colégio de Presidentes, eng.º agrônomo Manoel Antônio de Almeida Duré, para proferir palestra sobre o tema "Seca no Nordeste e Possíveis Soluções". Gadelha diz que só será possível evitar o agravamento do quadro de caos já instalado no Nordeste, se ocorrer uma intervenção definitiva nessa questão. Ele defende a retomada do projeto, já tantas vezes engavetado, da transposição das águas do Rio São Francisco. E desafia os opositores a essa iniciativa que apontem outra solução: "Se acreditam que não é possível fazer a transposição, então que mostrem outra saída. O que não é possível é que tudo continue como está naquela região", inquieta-se. O deputado explica que devido aos crescimentos da população, do setor de serviços, da indústria, enfim, das cidades que compõem o Nordeste setentrional (Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí) a seca de 1993 teve efeitos muito mais devastadores do que a de 1932, tida como a mais perversa. "Em 1932 o estado da Paraíba, por exemplo, só tinha dois municípios de grande porte. Hoje temos dezenas e a capital tornou-se uma metrópole. O número de escolas, hospitais, quartéis, comércio, indústria cresceram. Todos damandando por água, sem falar na demanda para a irrigação. A Paraíba hoje tem uma carência de água que inviabiliza seu crescimento", explica. O parlamentar ressalta que este quadro é só o da "normalidade". A situação se complica mais ainda na época da seca, com muitas conseqüências, entra elas, o aumento de doenças. "O custo operacional da seca é, absolutamente, insuportável. Todos os tipos de propostas - dessalinização, perfuração de poços, chuvas artificiais e outros - já foram apresentadas para combater este déficit crônico, sem resultados satisfatórios", informa. Importação de água - Dessa forma, Gadelha conclui que a única solução é a importação de água. "Não vejo outra alternativa que não seja as transposições ". O Brasil possui 12% da água doce do planeta, porém só 3% dela está no Nordeste e 90% no rio São Francisco. "Nosso país tem uma distribuição de água extremamente desigual. A transposição não pode ser uma discussão esgotada", defende Gadelha. Para o parlamentar o projeto de transposição, que já tem 150 anos, voltou novamente para a gaveta porque seus defensores não conseguiram convencer a população de estados contrários a iniciativa, como Bahia e Pernambuco, de que essa ação não causaria nenhuma depressão ao rio e nenhum embaraço a sua revitalização. Gadelha faz as contas e afirma que são 2060 metros cúbicos de água por segundo, que estão se dirigindo ao mar, "que não tem necessidade dessa água" e que poderiam estar servindo os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Essa água, segundo ele, atenderia a 10 milhões de pessoas, 250 municípios e resolveria a inúmeros problemas de crescimento das cidades daquela região, a um custo de R$ 3 bilhões, "menos do que o governo gasta socorrendo as vítimas da seca", afirma. Outras transposições - O palestrante disse ainda, que o mundo inteiro faz transposição de rios com sucesso e cita como exemplo: Espanha, Estados Unidos, Israel, Peru, Sudão, União Soviética, Austrália e África do Sul. Ele lembra que o projeto do atual governo parou nas audiências públicas. Das nove previstas, foram realizadas somente quatro. "Não me conformo que essa matéria continue sendo ponto de discórdia. A minha esperança é que os senhores contribuam para a retomada desse debate", disse, dirigindo-se ao plenário. Para Gadelha, se não ocorrer a transposição das águas do rio São Francisco só há duas alternativas: "a transposição do Rio Tocantins, interligando com o São Francisco, que aí seria só um canal de escoamento da água; ou a adução das águas do Tocantins diretamente de uma lagoa do rio, que é um projeto menor com capacidade de solucionar o problema somente de um ou dois Estados". Conselheiros - Entre as manifestações dos conselheiros federais, o eng.º civil João da Cruz Pimenta se colocou como voluntário para a realização de qualquer iniciativa a favor da transposição, e sugeriu a elaboração de uma cartilha prática que explique com clareza o projeto, a ser distribuída para a população dos Estados do Nordeste, principalmente os que são contrários a idéia. O geólogo Valdir Cassiano Resende de Oliveira sugeriu a mudança de nome do projeto para "Transposição das Águas do Baixo Rio São Francisco". Os dois conselheiros entendem que a falta de entendimento, pela população, do que realmente será transposto, como será e quais as conseqüências, é um dos principais fatores que contribuem para posicionamentos contrários a transposição. Bety Rita Ramos (Da equipe da ACS)