
Brasília, 18 de dezembro de 2025.
O 11º Prêmio da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU) divulgou, no início de dezembro, os vencedores de sua premiação na categoria Ciências Naturais e Matemáticas. O engenheiro agrônomo Paulo Eduardo Moruzzi Marques e o biólogo Fábio Frattini Marchetti conquistaram o 2º lugar com a obra “Multifuncionalidade da Agricultura Familiar: a sustentabilidade de sistemas agroalimentares”, da Editora da Universidade Federal de São Paulo (Edusp), também finalista do Prêmio Jabuti Acadêmico.
A obra vencedora foi “Manual da Autonomia Digital: bem-estar na experiência do usuário”, da Editora da Universidade Federal do Ceará (UFC), escrita pela doutora em Ciência da Computação Ticianne Darin. Em terceiro lugar, ficou “Guia de seleção de árvores ornamentais: paisagismo urbano para a Amazônia”, do engenheiro florestal Rafael Salomão e do botânico autodidata Nélson Rosa (in memoriam). A obra foi publicada pela Editora de Livros do Museu Paraense Emílio Goeldi.
O livro explora uma abordagem, a multifuncionalidade, disseminada desde a ECO/Rio 92 e sedimentada até a COP 30, realizada em Belém, no mês passado. Por meio dela, os profissionais absorvem papeis voltados ao desenvolvimento sustentável da atividade agrícola no país. Entre os temas tratados no livro, estão a insegurança alimentar, a sustentabilidade da produção agrícola, o manejo da agrobiodiversidade, os dispositivos de política pública em prol da agricultura familiar, a agricultura urbana, a agroecologia e os mercados alimentares alternativos.
A partir do entendimento da possibilidade de manter essas interações com a sociedade e o ambiente em que atua, como forma de compreender e de viabilizar um mundo mais justo, os autores dos artigos desenvolvem aspectos relevantes para a construção de políticas públicas e para a busca do atendimento aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas a partir do papel da agricultura familiar no desenvolvimento de sistemas agroalimentares sustentáveis. Os autores dos capítulos do livro pertencem ao Grupo de Pesquisa em Agriculturas Emergentes e Alternativas (Agremal), vinculado ao Programa de Pós-graduação Interunidades em Ecologia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros (Esalq) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), ambos da Universidade de São Paulo (USP).
Com prefácio da bióloga Vânia Galindo Massabni, temas como “Os sistemas produtivos de povos e comunidades tradicionais diante de crises do capitalismo do século XXI”; “(Re)Agravamento da fome no Brasil”; “A universidade no fortalecimento dos sistemas agroalimentares locais”; “A promoção do diálogo entre agricultura e saúde no Programa Nacional de Alimentação Escolar”; “Segurança alimentar e nutricional como função da agricultura urbana de base agroecológica”; “Oportunidades e desafios de um olhar cruzado sobre a agricultura urbana na França e no Brasil” e “Reflexões sobre políticas públicas territoriais no contexto da agenda 2030” são tratados pelos organizadores e por professores oriundos de diversas formações, e todos com pós-graduação em Ecologia Aplicada. Uma visão multiprofissional da multifuncionalidade da agricultura familiar sustentável. Veja mais detalhes e adquira a obra aqui.
Confea – Qual a importância desse reconhecimento pelas editoras das universidades e quais são os principais objetivos do livro?
Eng. agr. Paulo Eduardo Moruzzi Marques – Efetivamente, esta premiação pelas editoras universitárias, precedida pela indicação como finalista ao Prêmio Jabuti Acadêmico, constitui um reconhecimento da grande relevância do livro “Multifuncionalidade da Agricultura Familiar: a sustentabilidade de sistemas agroalimentares”, publicado pela Edusp. Esta obra é fruto de esforços no âmbito do Grupo de Pesquisa em Agriculturas Emergentes e Alternativas (Agremal), do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ecologia Aplicada (PPGI-EA/USP), visando disseminar uma ampla gama de resultados de pesquisas em torno da reflexão sobre as múltiplas funções da agricultura familiar. Portanto, constitui um meio de fomento do debate de temas centrais no campo agroalimentar, tais como a insegurança alimentar no Brasil, a sustentabilidade da produção agrícola, o manejo da agrobiodiversidade, os dispositivos de política pública em prol da agricultura familiar, os assentamentos implantados graças a intervenções de reforma agrária, a agricultura urbana, a agroecologia e os mercados alimentares alternativos.
Confea – Estamos vindo de uma COP em Belém. Qual a importância desse debate ambiental sobre a agricultura familiar ter um olhar multifuncional? Como os profissionais absorvem esses compromissos multifuncionais?
Eng. agr. Paulo Eduardo Moruzzi Marques – De fato, convém salientar que a noção de multifuncionalidade da agricultura familiar nasceu nos debates em torno de outro evento das Nações Unidas realizado no Brasil, a Cúpula Mundial ECO-Rio/92. Assim, esta noção constitui uma tradução do referencial do desenvolvimento sustentável para o âmbito agroalimentar. A ideia é então superar uma visão segundo a qual o papel da agricultura é exclusivamente produtivo, implicando em um olhar produtivista, graças à disseminação da concepção de que a atividade agrícola abrange dimensões socioambientais essenciais para um desenvolvimento com respeito ao meio ambiente, com bem-estar social, com dinamização dos territórios rurais, com valorização da agrobiodiversidade, associadas às diferentes culturas regionais e com o fornecimento de alimentos saudáveis para toda a população.

Confea – Quais são as principais linhas de pesquisa atuais sobre o desempenho e a sustentabilidade na agricultura familiar? Elas podem andar juntas, como a linha Relação Solo e Máquina busca, em universidades como a UFPR, no curso de Engenharia Agrícola?
Eng. agr. Paulo Eduardo Moruzzi Marques – O livro é muito representativo das pesquisas sobre o desempenho em termos de sustentabilidade da agricultura familiar. Então, estes estudos apresentam a vocação de impulsionar a reorientação da formulação das políticas públicas agroalimentares, considerando com todas as consequências das suas múltiplas funções. Os capítulos do livro abordam por exemplo o papel da agricultura familiar na alimentação escolar, as dinâmicas de mercados fundados em circuitos curtos alimentares, os efeitos da pluriatividade de tipo para-agrícola em assentamento rural, a contribuição para a segurança alimentar da agricultura urbana agroecológica e a centralidade da atividade das famílias agrícolas para o desenvolvimento territorial em meio rural.
Confea – Parece que o Brasil finalmente tem se voltado para a agricultura sustentável, por meio da divulgação maior da agroecologia, agrofloresta etc. O senhor acredita que isso seja permanente ou apenas uma tendência exarada pela COP?
Eng. agr. Paulo Eduardo Moruzzi Marques – É certo que existe muita concorrência entre forças políticas com perspectivas distintas quanto ao desenvolvimento nacional. Todavia, as preocupações crescentes com os problemas ambientais, oriundas por exemplo de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, tendem a favorecer um olhar mais profundo sobre o papel da agricultura familiar e sobre seus esforços no campo da agroecologia e da produção agroflorestal. Nesta ótica, a reorientação dos modelos referenciais para as práticas agroalimentares deve ter um caráter perene, integrando definitivamente a perspectiva de agricultura multifuncional.
Confea – O senhor tem formação voltada para a Sociologia, após a graduação em Agronomia, hoje atuando na área de ambiente e sociedade do programa de Pós-Graduação Interunidades (CENA-Esalq) em Ecologia Aplicada e coordenando o Grupo de Pesquisa em Agriculturas Alternativas (Agremal). A visão sobre essa atuação multifuncional vem avançando nas últimas décadas? O senhor acredita que ela seja um incentivo à participação dos profissionais atualmente?
Eng. agr. Paulo Eduardo Moruzzi Marques – Este grupo Agremal e o Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da USP ao qual está vinculado desenvolvem estimulantes abordagens multidisciplinares. Com efeito, a consolidação deste programa no campus Luiz de Queiroz ocorreu em razão de contínuos debates com vistas à formatação de pesquisa interdisciplinar, capaz de renovar a forma de produção de conhecimentos notadamente nas ciências agrárias e ambientais. A propósito, estes esforços para a consolidação deste programa de pós-graduação, que conta com uma dinâmica área de “ambiente e sociedade”, tornaram-no um reconhecido centro de referência de excelência nas ciências ambientais. Estas circunstâncias revelam as tendências futuras para a formação profissional de nível superior.
Confea – Como foi a seleção dos articulistas, junto ao Cena e ao Agremal? E qual a importância dessa visão multidisciplinar para a construção de políticas públicas e o atendimento aos ODS?
Eng. agr. Paulo Eduardo Moruzzi Marques – No livro, destacamos a aprovação em 2015 pela Assembleia Geral da ONU da “Década da Agricultura Familiar”, agendada para ocorrer entre 2019 e 2028. A intenção desta iniciativa foi justamente criar meios pujantes para o alcance dos ODS em 2030, considerando as enormes barreiras para que esta expectativa se concretize. Portanto, tal proposta considerou que a agricultura familiar constitui um pilar sólido e essencial para a luta contra a fome, o combate à pobreza, a garantia de segurança com soberania alimentar, a proteção dos recursos naturais e, em suma, a promoção do desenvolvimento sustentável, representando múltiplas funções de interesse público. Para os profissionais atuando no campo das ciências agrárias, o livro apresenta então um vasto panorama de conhecimentos pertinentes para o exercício da profissão e forma a responder a complexos desafios contemporâneos.
Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea
