Brasília, 20 de outubro de 2025
Os diversos andares do Confea amanheceram tristes na manhã desta segunda-feira. As lideranças e os funcionários da instituição lamentavam o falecimento no último sábado (18/10) do colega Rabah Mohamed Awadalla Rabah Abdelgawad, vítima de câncer. Natural de Gaza-Palestina, Rabah se formou em engenharia elétrica e eletrônica em 1982, na Universidade Al Fateh, a primeira faculdade de engenharia estabelecida na Líbia.
Em 1992, mudou-se para o Brasil e teve seu diploma revalidado pela Universidade de Brasília -UnB em 1997. No ano seguinte, registrou-se no Sistema Confea/Crea (veja a Decisão Plenária). A partir de 1999, passou a trabalhar no Conselho Federal. Entre as atividades que desempenhou, em 2008 foi coordenador do Projeto da WEC 2008, que trouxe o Congresso Mundial de Engenheiros para Brasília. Rabah foi fundamental na negociação com os países árabes, principalmente com Marwan Abdelhamid, liderança palestina que viria a se tornar o presidente da Federação Mundial dos Engenheiros (FMOI).

Também foi Rabah o responsável por estruturar a política de direitos autorais do Confea. Mais de 2,2 mil obras foram organizadas por ele. Todo esse material foi digitalizado e, hoje, pode ser consultado online em sistema automatizado. No início da década passada, quando já fazia um tempo que realizava esse trabalho, Rabah comentava sobre a importância de os profissionais registrarem suas obras: “serve como prova na justiça em casos de plágio e violação aos direitos autorais”.
Ao jornal interno do Confea, ele contou, em 2011, que muitas obras referentes à Copa do Mundo de 2014 estavam sendo registradas, em sua maioria, trabalhos sobre redução do consumo de energia e poluição. No mesmo jornal interno, em 2012, Rabah participou de uma enquete sobre os corredores de ônibus, quando o Governo do Distrito Federal implantou faixas exclusivas para transporte coletivo. “Sou a favor, pois a via exclusiva organiza o trânsito e evita que os ônibus invadam as outras faixas. Também acho justo que as pessoas que pegam ônibus cheguem mais rápido em casa”, disse Rabah na ocasião.
De serenidade e de resiliência
A nacionalidade palestina é mantida pela família de Rabah, a exemplo dos costumes de uma cultura milenar. E mais um exemplo da importância dessa convivência pôde ser percebido nesse momento de sua despedida. Enquanto a consternação, mais do que natural para os padrões brasileiros, dominava os colegas do Confea com quem o engenheiro eletricista manteve maior proximidade ao longo desses 26 anos de casa, a serenidade manifestada pelos filhos Farah, 18, e Mohamed, 15, mostrou o quanto seus ensinamentos e práticas de vida foram acolhidos e representam a maior expressão da sua continuidade.
Serenidade que talvez seja o significado menos evidente da forma de ser de Rabah, diante do nosso modo de vida tão cercado pela imediatez e pela ansiedade das nossas lidas diárias, que fazem parte da cultura ocidental. Assim, adjetivos como “calado”, “discreto”, “reservado”, “quieto”, “culto” talvez sejam as formas mais objetivas de caracterizar esta condição mais complexa, ou talvez mais simples, a que podemos denominar apenas de serenidade.

Colegas das gerências de Conhecimentos Institucionais (GCI), onde Rabah chegou a ocupar a gerência, e de Desburocratização e Normatização (GDN), são unânimes em manifestar essa visão sobre essa pessoa que “manteve o sorriso até mesmo nos momentos mais duros da doença, esteve sempre forte, atento às obrigações funcionais”, como diz o ex-gerente Henrique Nepomuceno. “Ele repassava os conhecimentos com muita clareza, sendo requisitado para várias viagens internacionais e mantendo atuação importante na realização do 3º Congresso Mundial de Engenheiros (WEC 2008). Também me ensinou bastante sobre Direitos Autorais”, diz Riveline de Sousa, sua colega desde 2018.
Praticamente contemporâneo na casa, o engenheiro agrônomo Cláudio França foi um dos amigos mais próximos do engenheiro poliglota, cercado de memórias dos tempos de guerra, tão naturais a seu povo. “Na terceira vez em que conseguiu voltar, casou-se com Maryam. Depois de percorrer diversos países, considerava o Brasil o melhor lugar do mundo”. Assim, Cláudio também dá mais uma pista para a configuração da personalidade/modo de ser de Rabah: grande parte de sua serenidade talvez decorra de outro substantivo que sempre marcou sua vida: a resiliência.
Beatriz Leal e Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: acervo Confea