Vitória, 7 de outubro de 2025.

A capacitação permanente dos profissionais, anunciada pelo presidente Vinicius Marchese em um vídeo apresentado ao início de cada painel, estimulou a realização da mesa que reuniu o presidente do BIM Fórum Brasil, eng. civ. Rodrigo Broering; a diretora Executiva do fórum, arq. e urban. Raquel Ribeiro; a eng. civ. Késia Alves da Silva, organizadora do BIM Crea-SC, e o arq. e urban. Eduardo Nardelli, vice-presidente de Arquitetura do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco).
Ao defender que projetos complexos de arquitetura que incutem uma tecnologia digital que torna essa arquitetura possível, após apresentar uma série de projetos arquitetônicos ao redor do mundo feitos com a Modelagem BIM, a exemplo do Museu de Bilbao, Eduardo Nardelli considerou que “a arquitetura começou a incorporar no seu modo de fazer algo que já existia na indústria aeronáutica, na navegação, o uso de simulação virtual. Estamos vivendo um momento parecido com o que aconteceu com a Revolução Industrial, e agora na Revolução Tecnológica. O paradigma atual passa pela automatização de processos, customização, não linearidade e geometria não Euclidiana”.
Ele citou que o primeiro paradigma dessa revolução tecnológica utilizava o Sistema CAD. “Hoje, estamos saindo do CAD para o BIM. A gente começa a desenvolver projetos já a partir da tela do computador. Um processo generativo de construção de formas, baseado no desempenho dos edifícios que estamos projetando”. Ele acrescenta que o CAD mantinha os desenhos, a representação geométrica, enquanto o BIM é um modelo que contém todas as informações: normas e legislação; referências e conhecimento acumulado; programa; gerenciamento de recursos; gerenciamento da construção; aplicativos CAD, VRML Modelos 3D, simulações, especificações e orçamentos, apresentando visualizações em 2D e 3D para explicar as atualizações e conceitos, a partir de softwares que definem elementos estruturais que sustentarão o projeto.

Ao apontar ainda novos aspectos possibilitados pelo modelo, ele afirmou que, no processo da arquitetura generativa, com uso de algoritmos, é possível mudar a forma, conforme valores preestabelecidos. Apresentando projetos como o estádio Ninho de Pássaro, na China, e o London City Hall, de Norman Foster, argumentou que eles respondem a questões como a propagação do som e a ventilação. “De fato, há uma tendência de ruptura, baseada no uso intensivo da arquitetura digital, na capacidade de gestão, na equipe. Vocês estão sintonizados com essa mudança?”, questionou, ao concluir sua primeira intervenção.
Soluções e filosofia
Participante também da Soea de Salvador, o presidente do BIM Fórum considerou inicialmente “que é preciso saber como essas tecnologias podem nos ajudar nesse processo. Nossa estrutura organizada nos permite debater e propor soluções. Nossa intenção, é a partir do contato com diversas instituições, promover os avanços. Todos estão sendo convidados”.

A visão do Crea-SC, através do seu Comitê BIM, foi apresentada por Késia Alves. “Queríamos saber se os profissionais que trabalham com BIM estão sendo valorizados devidamente. Incomodados com as respostas, criamos o Comitê. Queremos evoluir com isso juntos”.
Já a conselheira federal eng. civ. Ana Adalgisa, moderadora do debate, apontou que o BIM não é um Autocad, “é uma filosofia que vem para melhorar a qualidade das nossas obras. Temos que discutir como essa filosofia chega no campus e no campo dos profissionais de Engenharia”, disse, ao provocar os painelistas.
Valorização
Raquel Ribeiro considerou que a ideia do BIM Fórum Brasil “é mudar essa realidade, e valorizar o profissional. Nosso papel vai ser discutir, o quanto você profissional, trabalhador e instituição, pode construir esse universo. Hoje você se sente refém da desvalorização profissional”, reforçou.

A moderadora apontou que o TCU apresentou há alguns anos o quantitativo de obras paralisadas no país. “Há uma série de situações que fazem parecer que não tinha engenharia ali, o que faz a gente pensar como está a formação dos profissionais. O presidente Vinicius tem chamado atenção para a falta de engenheiros no mercado”, disse, questionando ainda como as universidades estão preparando os profissionais da engenharia para o mercado, diante da “nova engenharia”.
Ao retomar a palavra, Eduardo Nardelli lembrou que há algumas décadas o país usufruía do talento de nomes como Oscar Niemeyer. “Estávamos a par desse conhecimento de então, mas fomos nos distanciando desse domínio. A tecnologia evoluiu, mas nós não acompanhamos esse processo. O problema é o mindset, não acompanhado pelas nossas universidades. As equações são do século XVIII. O que aconteceu foi a mudança da percepção desse processo”, lamentou.
Qualificação
Broering apontou a pesquisa do Confea, mostrando a drástica redução dos alunos de engenharia, ano a ano. “Preocupante, pois o Brasil necessita de obras e estamos com menos engenheiros. Uma das causas é que o curso de engenharia está defasado”, disse, em resposta a Ana Adalgisa. Ele defendeu que é preciso aprender a tecnologia pura, mas a nova geração não se adapta a isso. “Temos a Inteligência Artificial na nossa porta. Nosso problema é que os cursos de Engenharia e Arquitetura precisam olhar para o uso da tecnologia como ferramenta de aprendizagem, senão, não teremos engenheiros e arquitetos”.

Em 2018, não tínhamos o ministério da Educação na Estratégia BIM BR. Hoje temos, apontou Raquel Ribeiro. “O projeto Construa Brasil está transformando as universidades, com cursos integrados de Engenharia. Nós podemos recorrer aos Creas para fazer uma célula BIM na sua instituição de ensino”, disse, ressaltando as atividades nos Creas e no Confea. “Estamos fazendo um movimento, mas precisamos de mais gente. Vamos nessa”.
Késia abordou a capacitação dos profissionais. “No presente, o Crea-SC busca a conexão com institutos de tecnologia, onde temos parcerias para levar a Unicrea, capacitações gratuitas para os profissionais, não só de tecnologia, mas de gerenciamento de projetos, acesso às normas e outras ações que fazem com que o profissional já inserido no mercado possa se qualificar melhor e abrir outras frentes para mudar os problemas de hoje”, considerou, enfatizando que a necessidade faz com que os profissionais tenham hoje mais que um emprego. “Hoje a gente tem que fazer bico. Não é isso que a gente quer para vocês. Por isso, a gente tem que mudar”.
“Temos a percepção de que essa mudança passa pela educação. E muitas vezes isso passa pela engenharia pública, que não tem a valorização devida. Às vezes, ele é o engenheiro fiscal, ou tem uma empresa em outra cidade. Precisamos ter uma valorização do setor público, não só em nível de salário, mas também ter uma capacitação desses profissionais para que eles não passem anos fazendo da mesma forma. Nós podemos estar juntos nisso no setor público”, pontuou a conselheira federal.
Nardelli, falando pela terceira vez, afirmou que “esse processo de empobrecimento e desvalorização não acontece em um vácuo. É um processo longo, especialmente no setor público, com a aprovação do projeto básico na Lei 8.666/1993. Isso cria uma configuração do ativo construído para identificar e contratar uma obra. Para o político com quatro anos de mandato o que interessa é iniciar uma obra. Esse processo foi levando à contratação pelo menor preço, e não pela melhor técnica. A 14133 tenta mudar um pouco disso. Não é à toa que chegamos a essa situação de empobrecimento. Na outra ponta, o professor da universidade que eu estudei era um profissional do mercado. É muito bom que o professor com mestrado e doutorado tenha experiência profissional”.
Obras paralisadas e mais capacitação
“As obras paralisadas decorrem do problema entre o projetado e o orçado. A causa muitas vezes está no projeto que, por não ser completo, não gerou um orçamento compatível e gerou um desequilíbrio financeiro. Se o ente publico exigisse que essa obra fosse feita em BIM, teria sido feito com um orçamento melhor e não haveria esse problema”, considerou Broering. “Queremos ser valorizados, mas se continuo projetando e construindo com os mesmos materiais e tecnologias do século passado, como é possível esperar que o mercado me remunere bem? Para isso, tenho que fazer algo diferente. Temos que digitalizar o nosso processo de construção”.
Ao responder sobre a experiência em um projeto que rodou 4.400 km de Santa Catarina, conhecendo a realidade dos profissionais, Késia considerou que o RH dos profissionais não traz uma esteira de capacitação para formar o profissional. “Isso gera um caos na administração pública. Agora, está tramitando a PEC da Reforma Administrativa que pede o fim da estabilidade funcional. Isso é danoso para o profissional. Se a gente está refém de um gestor que pode te tirar a qualquer momento, as obras públicas vão continuar muito ruins”, disse, sugerindo que a capacitação é a única forma de resolver isso e que essa visão deveria ser incentivada pelos profissionais junto aos regionais. “Somos protagonistas para mudar essa realidade”.

Cursos de capacitação gratuitos sobre o projeto Construa Brasil, na Enap, foram citados por Raquel Ribeiro, como uma capacitação de 80 horas sobre a plataforma BIM. “No nosso site do BIM Fórum Brasil, também temos pílulas de conteúdos para começar essa trajetória de mudanças do mindset para fazer isso no hoje. Mas temos também ações estruturantes com os ministérios e a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) que está fazendo o planejamento de sua caravana para 2026”.
Entre as perguntas feitas aos painelistas, o uso ainda frequente do CAD, em lugar do BIM, foi abordado pelos painelistas Raquel Ribeiro e Késia Alves. Raquel considerou que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) anunciou projetos de pesquisa e desenvolvimento com o mercado, a partir do terceiro ano. “Temos consciência disso. Precisamos de capacitação. Precisamos ter algo muito maior do que existe. Precisamos fazer algo muito maior e juntos. A indústria precisa mudar, mas toda a indústria, não só projetistas”. Kési convidou todos a participar, de 15 a 19 de outubro, do VII Bim Crea-SC e incentivou a divulgação de trabalhos nas redes sociais. “O trabalho é de união de todos para que a gente consiga avançar”.
Ana sugeriu que antes de pedir para o Sistema valorizar os profissionais, eles precisam valorizar-se. “A nossa autovalorização vai dar um reflexo maior no mercado. Hoje existem diversas formas de capacitação. Temos que buscar para que a gente possa estar preparado para o futuro. Vamos parar de nos queixar”, argumentou. “Vamos ter que aprender a aprender. Se eu não fizer a minha parte, não adianta ficar chorando”, considerou o presidente do BIM Fórum Brasil. ”Temos que valorizar o nosso conhecimento”, instigou Kesia. “Vocês não estão sozinhos”, arrematou Raquel.
Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Sto Rei e Impacto/Confea