Dar nome a asteroide não é para qualquer um

Palmas (TO), 18 de setembro de 2019.

Representando o presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger, o eng. mec. e conselheiro federal Ronald Monte dos Santos recepcionou o cientista Luiz Fernando da Silva Borges, palestrante que abriu a programação da quarta-feira (18), segundo dia da 76ª Soea, realizada em Palmas (TO).

Com o tema da palestra “Os desafios de construir o futuro no nosso presente: prendendo fantasmas em robôs”, Luiz foi aplaudido diversas vezes durante sua apresentação que tratou de neurociência que integra várias engenharias: eletrônica, da computação, mecatrônica e mecânica, entre elas.

Reconhecido internacionalmente Luiz Fernando da Silva Borges abriu a programação da quarta-feira, na 76ª Soea

Aos 21 anos, filho único de um soldado bombeiro e de uma professora do Ensino Fundamental, Luiz Fernando, aluno de Engenharia Mecatrônica do Instituto Insper, desenvolveu um computador que por meio de eletrodos estabelece a interface cérebro-computador para comunicação com pessoas inicialmente classificadas em estado vegetativo ou coma. Como mágica, a máquina capta pensamentos e os transforma em ações ou palavras, detectando modulações voluntárias em registros em tempo real de atividade cerebral, a fim de promover um canal de comunicação entre a equipe médica/família e o paciente. Como exemplo, Luiz Fenando lançou mão do exemplo de um braço robótico inteiramente controlado pela intenção do pensamento de uma pessoa.

Outro exemplo foi o de uma mulher brasileira declarada morta, que em depoimento gravado e projetado durante a palestra, contou da angústia de estar ouvindo tudo o que falavam sobre seu estado, sem conseguir falar ou mesmo se movimentar para dar sinais que ainda estava viva.

“A atividade cerebral captada por um computador não é mais ficção científica e está mais próxima da realidade”, afirmou Luiz Fernando.

Para o palestrante, “no futuro pode existir técnica sem fio que revela pensamentos”, atualmente, a interface cérebro-máquina é feita por meio de eletrodos implantados diretamente no cérebro.

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Motivação gigantesca
Após a palestra, em entrevista exclusiva para o site do Confea, perguntado sobre a calma com que se comunica – incomum para um jovem de 21 anos – Luiz Fernando contou que a serenidade surgiu depois de recorrer a várias técnicas. Ele diz que sofria de ansiedade ou como define “sofria de excesso de futuro”.

Sobre qual a mensagem que deixaria para os jovens que participam da 76ª Soea, Luiz disse que: “Para o jovem estudante de Engenharia, eu diria que a maior motivação é saber que seu trabalho vai fazer a diferença na vida das pessoas. Na minha ótica, uma motivação gigantesca para alguém é levantar da cama e saber que o fruto do seu trabalho vai fazer com que uma pessoa sofra menos, salve uma vida ou melhore a vida de alguém. Para mim, não há nada mais nobre do que isso e não há outro maior motivo pelo qual se vale a pena ter uma atividade profissional ou, até mesmo, viver”.

Sobre a possibilidade de usar células-tronco, Luiz Fernando disse da “possibilidade de se induzir a especificação de células-tronco usando uma interface cérebro-máquina. Usando um conjunto de artefatos que extrai a atividade cerebral e envia para um programa de computador que traduz essa atividade em alguma coisa. Com isso, se conseguiria guiar células-tronco  usando isso”.

Atualmente, Luiz Fernando trabalha em uma startup de tecnologia que tem como objetivo criação de um equipamento portátil que possibilita a comunicação com pessoas que foram consideradas em estado vegetativo e coma ao lado do leito do paciente.

Segundo ele, o equipamento está pronto e aguardando autorizações de comitês de ética para que haja um teste em ambientes como UTIs. Ao responder sobre quanto o equipamento chegaria aos hospitais públicos, Fernando creditou ao tempo: “A primeira barreira que temos é a da regulamentação que depende do Inmetro e Anvisa que regulamentam esse tipo de dispositivo. Como todo e qualquer dispositivo tecnológico como um telefone celular, por exemplo, terá um custo proibitivo no início só que com o avanço da tecnologia dos componentes utilizados para a sua montagem, o preço será reduzido”.

Natural de Aquidauana, filho de uma família simples, Luiz Fernando diz que o ímpeto de misturar tecnologia com medicina veio do pai: “Sempre quis conhecer a sensação de saber que uma vida existe por sua causa. Seja por um motivo heroico ou não, saber que alguém casou, que alguém se apaixonou, teve filhos, que alguém sorriu mais um pouco, que alguém pode ver o sol nascer novamente por causa de uma coisa que eu fiz”.

Luiz Fernando também deixou uma mensagem para os velhos ou “mais experientes” e recorreu ao amor que tinha pela bisavó, Ernestina Romano Duarte, já falecida, com quem adorava conversar e ouvir suas histórias:
“Para as pessoas mais experientes eu diria, encontre gente jovem disposta a ouvir e a aprender, e transmita a sua experiência, esse bastão pode ser passado para a próxima geração que pode construir sobre os ombros desses gigantes. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia funciona assim de geração em geração, a solução de um problema avança até um ponto e passa para a geração seguinte, isso serve para problemas sociais, políticos e problemas éticos”.

Luiz Fernando e o conselheiro Ronald

Perfil
Nos últimos três anos, Luiz Fernando da Silva Borges desenvolveu pesquisas e tecnologias na área de Engenharia Biomédica com modelagem estatística de processos termodinâmicos para amplificação de DNA; próteses robóticas de membro superior com feedback tátil; dispositivos de monitoramento do sono para a regulação do ciclo circadiano e interfaces cérebro-máquina de loop fechado embarcadas em sistemas de processamento distribuído para a comunicação com pessoas inicialmente classificadas em estado vegetativo ou coma.

Com mais de 60 prêmios nacionais e internacionais, o ex-aluno do Instituto Federal de Educação, Ciência, e Tecnologia de Mato Grosso do Sul, recebeu o prêmio concedido pelo MIT Lincoln Laboratório, por meio do programa Ceres Connectione tendo seu nome submetido ao International Astronomical Union (IAU) que nomeou o asteroide 33503 como Dasilvaborges, em sua homenagem.

Reportagem: Maria Helena de Carvalho (Confea)
Edição: Julianna Curado (Confea)
Revisão: Lidiane Barbosa (Confea)
Equipe de Comunicação da 76ª Soea
Fotos: Damasceno Fotografia e Marck Castro/Confea