Vitória (08), de outubro de 2025.

A tarde de 8 de outubro, durante a 80ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), foi marcada por reflexões sobre o papel da Engenharia, da Agronomia e das Geociências diante da crise climática global. O painel “Manifesto da Engenharia, da Agronomia e das Geociências para a COP-30” reuniu profissionais e lideranças do Sistema Confea/Crea e Mútua em um debate que destacou a responsabilidade técnica e ética das profissões na construção de um futuro sustentável.
A mediação foi conduzida pelo coordenador da Comissão Temática de Meio Ambiente do Confea, eng. eletric. Sérgio Maurício Mendonça Cardoso, e contou com as participações da presidente do Crea-PA, eng. civ. Adriana Falconeri; do vice-presidente do Crea-PA, eng. contr. autom. Everton Ruggeri Silva Araújo; do secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo, eng. pro. Felipe Rigoni Lopes; e do diretor-presidente do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), eng. amb. Gustavo Picanço Feitoza.
A origem do manifesto
A presidente do Crea-PA, Adriana Falconeri, abriu o painel compartilhando sua trajetória dentro do Sistema, onde atua desde 2011. Com base em sua vivência, ela fez um apelo pela união da categoria. “Percebi, ao longo desses anos, o quanto somos desunidos e até parados. Precisamos entender que não somos concorrentes, somos colegas. Nossos concorrentes são aqueles que não são engenheiros e estão fazendo o nosso trabalho”, afirmou.
Foi desse sentimento coletivo de valorização profissional que nasceu o Movimento das Engenharias, Agronomia e Geociências para a COP-30, culminando na elaboração do manifesto. “Este documento é a opinião da engenharia nacional sobre um evento planetário, mundial, que pela primeira vez será realizado no Brasil, na América Latina e no Estado do Pará. A engenharia precisava se posicionar — e esse é o nosso posicionamento”, explicou Adriana.
A COP-30 e o protagonismo técnico
Os palestrantes contextualizaram a importância da COP-30, conferência global que reunirá líderes de mais de 190 países em Belém, em novembro deste ano, para discutir políticas de enfrentamento às mudanças climáticas. O painel destacou dados alarmantes: em 2025, o mundo ultrapassou o sétimo dos nove limites planetários estabelecidos pela ciência, e 2024 foi o ano mais quente já registrado. As consequências estão cada vez mais visíveis — enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul, seca histórica na Amazônia, erosão costeira em Atafona (RJ) e o chamado “ponto de não retorno” na Floresta Amazônica.
Diante desse cenário, a Engenharia, a Agronomia e as Geociências foram apresentadas como linhas de frente no combate à crise climática. Com 322 títulos profissionais reconhecidos pelo Sistema Confea/Crea, essas áreas abrangem praticamente todos os campos necessários ao desenvolvimento sustentável. “Nós mesmos, dentro da Engenharia, muitas vezes não conhecemos a fundo o que as outras especialidades fazem. Imagine, então, a sociedade. Antes de conscientizar o público, precisamos nos conscientizar como classe”, ressaltou Adriana.
A consulta pública e o Manifesto Nacional
O painel também detalhou como ocorreu a Consulta Pública Nacional promovida pelo Sistema Confea/Crea e Mútua, que reuniu contribuições técnicas de profissionais de todo o Brasil. A iniciativa tem como objetivo selecionar propostas em mitigação e adaptação climática que irão compor o Manifesto das Engenharias, Agronomia e Geociências para a Governança Climática — documento que será apresentado como posicionamento técnico qualificado na COP-30.

Segundo o vice-presidente do Crea-PA, Everton Ruggeri, o movimento surge em um momento histórico. “A COP-30 é o maior evento climático do mundo, e era fundamental que o Sistema se manifestasse. O Manifesto será entregue a órgãos públicos e à ONU, e representa a voz técnica dos nossos profissionais”, destacou.
Everton explicou que, para estimular a participação, foram realizados grupos de trabalho e eventos preparatórios no Pará, como o estudo sobre a manutenção de árvores na região metropolitana de Belém. Ele também mencionou que o Sistema Confea/Crea marcará presença na Green Zone da COP-30, espaço de participação da sociedade civil, e destacou a fiscalização das obras do evento — que contam com 80% da mão de obra proveniente do próprio estado.
As propostas da consulta pública foram organizadas em sete eixos principais: saneamento e infraestrutura resiliente (20%), inovação tecnológica e empreendedorismo verde (20%), planejamento territorial e cidades (15%), mudanças de uso da terra e florestas (12%), gestão de resíduos sólidos (12%), agropecuária de baixo carbono (7%) e transportes e mobilidade urbana (5%). O Pará liderou o número de contribuições, seguido pelo Paraná e pelo Espírito Santo.
Everton destacou que o Crea-PA criou um grupo de trabalho para sistematizar as propostas com base em critérios técnicos rigorosos de avaliação, como o alinhamento às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) do Brasil, compatibilidade com o Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) e harmonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Entre os critérios de exclusão estão propostas voltadas a órgãos específicos, ideias repetidas e soluções genéricas sem detalhamento técnico.
Os resultados parciais apontaram proposta nas áreas de alta taxa de aproveitamento nas áreas de saneamento (57,4%), agropecuária de baixo carbono (70,6%) e gestão de resíduos sólidos (55,2%). “Essa é a forma de cada um de vocês contribuir para a COP-30 e para as ações de enfrentamento ao clima”, concluiu Everton.
Mitigação, adaptação e formação profissional
O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo, eng. prod. Felipe Rigoni Lopes, falou sobre o papel das Engenharias, Agronomia e Geociências nas ações de mitigação e adaptação climática. “Mitigação são as ações que nos fazem ter menos mudanças. Adaptação é aprender a conviver com as mudanças que já aconteceram ou estão acontecendo”, explicou.

Rigoni destacou que a descarbonização da economia é uma meta inevitável: “precisamos chegar ao ponto em que a quantidade de carbono emitida seja igual à que conseguimos absorver.” Ele apresentou exemplos de atuação técnica em reflorestamento, monitoramento de barragens e transição energética em indústrias capixabas, destacando que todas as ações possíveis de enfrentamento climático envolvem, no mínimo, um dos 322 perfis profissionais do Sistema Confea/Crea e Mútua. Para o secretário, além das mudanças tecnológicas, é necessário repensar a formação profissional. “Nossos futuros engenheiros precisam ser preparados para um mundo de extremos climáticos e tecnologias em constante evolução.”
A experiência amazônica e o equilíbrio entre floresta e desenvolvimento
Encerrando o painel, o diretor-presidente do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), eng. amb. Gustavo Picanço Feitoza, apresentou um panorama da atuação técnica e fiscalizatória do órgão que coordena o licenciamento ambiental no estado. “O Ipaam é o guardião do equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. É por meio do licenciamento que asseguramos investimentos sustentáveis, geração de empregos e respeito à floresta”, destacou. Para reduzir o receio dos produtores e ampliar o alcance das ações, o instituto criou o Ipaam Itinerante, que leva orientação técnica aos municípios do interior. Gustavo enfatizou que o trabalho técnico apoiado nas Engenharias, Agronomia e Geociências é fundamental para enfrentar os desafios climáticos e orientar o Amazonas rumo a um modelo de desenvolvimento de baixo carbono.

O dirigente apresentou exemplos de grandes empreendimentos licenciados pelo órgão: o Projeto Potássio Autazes, com investimento de R$ 2 bilhões e geração de mais de 8 mil empregos diretos e indiretos; a Mineração Taboca (Pitinga), com R$ 950 milhões investidos e reflorestamento de 1.200 hectares; a Eneva, com investimentos superiores a R$ 5 bilhões e expansão da matriz energética limpa; e os projetos da Petrobras no estado, licenciados com base em estudos de engenharia e geociências que garantem segurança e benefícios locais. “O desafio amazônico é preservar e desenvolver. Temos a maior biodiversidade do planeta e um povo que precisa de emprego, renda e oportunidades. O futuro do Amazonas depende de conciliar floresta com prosperidade para o povo”, afirmou.
Reportagem: Débora Pereira (Crea-PR)
Edição: Fernanda Pimentel (Confea)
Equipe de Comunicação da 80ª Soea
Fotos: Sto Rei e Impacto/Confea