Brasília, 15 de maio de 2024.
A análise científica de dados é cada vez mais indispensável em um mundo marcado pelo crescente impacto das mudanças climáticas. Neste momento em que o Rio Grande do Sul enfrenta a maior enchente da história que já vitimizou 148 pessoas e afetou outros 2,1 milhões de habitantes, a ciência se confirma como ferramenta poderosa para mitigar os danos da catástrofe e prevenir novos desastres.
Em um esforço notável de contribuição acadêmica, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e colaboradores lançaram o "Repositório de informações geográficas para suporte à decisão – Rio Grande do Sul 2024". A plataforma centraliza dados cartográficos da tragédia e oferece informações detalhadas das áreas mais afetadas, abrangendo a Região Metropolitana de Porto Alegre, o Vale do Taquari, o Vale dos Sinos e a Região Sul do estado.
São disponibilizados banco de dados e análises, além de mapas em formato para o público em geral e também para acesso avançado, como explica o engenheiro ambiental, hidrólogo e doutorando em Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos Iporã Possanti. “Essa é a função que a universidade pública tem: levar informação para a sociedade, não só para as autoridades, mas também para a população em geral que pode abrir esse conteúdo no celular e ver se tem um abrigo perto, se tem uma mancha de inundação ou se está na área de risco”, detalha o pesquisador, ressaltando que o site oferece conteúdo simplificado que pode ser utilizado por jornalistas na divulgação de informações confiáveis. “Nossos mapas trouxeram um elemento de credibilidade, com informação para orientar pessoas de forma qualificada”, afirma.
Os conteúdos estão separados por localidades para que cada pessoa afetada possa pesquisar diretamente em sua região os pontos importantes para garantir sua segurança ou contribuir com ações solidárias
Informar as autoridades de maneira eficiente e rápida é outro objetivo da plataforma que está sendo desenvolvida em caráter emergencial e voluntário por 55 estudiosos, entre eles engenheiros ambientais, que integram uma equipe multidisciplinar da UFRGS. “Sem dúvidas, nossos dados serão valiosos para o dimensionamento de infraestrutura que foi devastada e que deve ser recuperada e também para o dimensionamento de verbas do governo”, salienta o engenheiro Possanti, ao comparar a atual tragédia com a última grande enchente registrada há 83 anos. “Pelas imagens de satélite podemos fazer um raio-x do acontecido. Em 1941, foi possível estudar apenas pelas medições e pelas fotos. Hoje, temos um relato mais claro da observação da inundação, por exemplo." Graças às atuais imagens de satélite e à integração com outras fontes de dados, como o censo, é possível realizar análises detalhadas sobre o impacto das enchentes, incluindo o número de pessoas atingidas, áreas alagadas e domicílios impactados.
Os mapas são disponibilizados em dois níveis distintos: observação e simulação. A partir da observação, é possível, por exemplo, avaliar a gravidade da situação e prever espaços para instalar abrigos com base em simulação de níveis, o que demonstra a utilidade prática de se registrar e medir fenômenos, como tempestades e enchentes. “O fenômeno natural deve ser captado para virar dados, para que esses dados sejam trabalhados, interpretados e relacionados com outros fenômenos; e assim essa informação poderá virar decisão”, defende José Müller, engenheiro ambiental e doutorando em sensoriamento remoto e geoprocessamento na UFRGS, que também está trabalhando no repositório para dar transparência aos dados registrados no Rio Grande do Sul.
Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea, com informações da UFRGS
Imagens: Repositório de informações geográficas UFRGS