Eufran Ferreira do Amaral

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal do Acre, em 1992; Especialista em Introdução ao Planejamento Agrícola, pela Universidade Federal do Acre, em 1993; Fertilidade e Manejo de Solos Tropicais, pela Universidade Federal de Viçosa, em 1994; Aplicación de la Teledetección y de Los SIGs, pelo Deutsche Stiftung Für Internationale Entwicklung, em 1995; Levantamento e Classificação de Solos, pela Universidade Federal do Acre, em 1997; Mestre (2003) e Doutor (2007) em Agronomia, ambos pela Universidade Federal de Viçosa


Nascimento: Tarauacá (AC), 13 de fevereiro de 1970

Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Acre (Crea-AC)


Dizer que o engenheiro agrônomo Eufran Ferreira do Amaral é um especialista em Solos e Nutrição de Plantas, área de seu mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), limitaria bastante a sua atuação profissional. Hoje, o pesquisador concursado da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no Acre, da qual foi chefe-geral, se tornou um especialista nas condições de vida das gentes da região amazônica.

Do pequeno município acreano banhado pelo rio Tarauacá, a 360 quilômetros de Rio Branco, Eufran se tornaria próximo até de estados vizinhos, incluindo populações de terras indígenas, com quem convive sob uma abordagem com características antropológicas, a Etnopedologia. 

Além de pesquisador, já disseminou seu conhecimento como professor, secretário de Meio Ambiente e na consolidação da Política de Incentivos aos Serviços Ambientais do Acre, considerada a mais inovadora e estratégica política pública para a valorização de florestas em execução na Amazônia, sob o lema “Viver na Floresta, da Floresta e com a Floresta”.

Filho da acreana Francisca Amaral e do técnico agrícola paraense Eugênio Amaral, Eufran se mudou da cidade ainda antes do primeiro ano de vida. “Passo sempre por lá para ir ao escritório de Cruzeiro do Sul. Meus pais moram até hoje em Sena Madureira, onde vivi até 1983 e saí para fazer o segundo grau. Meu pai produz ainda”, conta, citando a influência também do professor da área de solos na graduação, eng. agr. Ribamar Torres, vítima de Covid-19 em 2020. “Fui monitor da disciplina em todo o período da universidade”.

Seus trabalhos técnicos tiveram repercussão internacional e contribuíram para a formação de técnicos, produtores, extrativistas e indígenas de toda a região. Eufran considera que “se tivesse que voltar, seria agrônomo no mesmo jeito, pela abordagem da Etnopedologia, um conceito maior de classificação de solos, vendo como o homem se relaciona com a cultura, vendo a terra não só como bem de produção, mas domínio de território, um diálogo de saberes que torna o exercício do pesquisador muito gratificante”.

Esse envolvimento é destacado pelo orientador de mestrado e doutorado, e amigo que o tem como de sua família, eng. agr. João Luiz Lani. “Os acreanos amam a terra, que eles lutaram para conquistar. E Eufran contribui muito nesse sentido, criando cidadania em grupos de Educação Ambiental para crianças, incentivando o melhor uso dos recursos naturais, inclusive em mapeamentos de terras indígenas, e ainda o planejamento do uso da terra na região”, diz.

A amizade entre os dois se intensificou em 2004, quando Lani acompanhou a tragédia vivenciada por Eufran, a bacharel em Direito Leoneide Vieira Coelho do Amaral, sua esposa, e os irmãos Enzo Cesar e Ellen: o filho Leonardo, de oito anos, foi vítima de atropelamento, em Viçosa. “Foi muito difícil, algo que não vou esquecer”, descreve o amigo que acompanhou o velório no Acre. 

“Foi o doutorado mais caro de todos”, diz Eufran que dedicou ao filho um belo poema. “Ele me inspira e me fez seguir, mas é uma dor contínua. Isso me tornou mais sensível, não só na profissão, e me ajudou a ser o que sou hoje, transformando essa dor em uma atitude positiva para ajudar o índio que está morrendo de fome, orientando sua base de produção”, diz.

Hoje a Embrapa tem um acordo de cooperação técnica com a Fundação Nacional do Índio (Funai), coordenado por Eufran na Embrapa Acre. “Temos demandas dos indígenas para a Funai com relação à produção, como, por exemplo, as atividades conjuntas da Embrapa, Sepa, Sema e Funais com o povo Madija na TI Alto Purus”, diz. A região, visitada por ele durante a produção deste material, fica a quatro horas de carro do município de Manoel Urbano e mais cinco horas de barco pelo rio Purus, afluente do Amazonas.

“Fazemos um diagnóstico para manter a base de produção e diversificá-la de forma integrada, respeitando as tradições deles. Fazemos treinamentos de práticas agroflorestais, levamos viveiros de mudas, buscando a segurança e soberania alimentar para que eles produzam a maior parte do alimento que eles consomem”, acrescenta, informando ainda que, diante dos desafios agrários da região, a equipe é acompanhada por um indigenista da Funai.

Dedicação reconhecida pelo orientador. “Eufran foi um dos pesquisadores pioneiros da Amazônia em Viçosa. Contribuímos com uma base científica que já se expandiu do Acre para Amazonas, Rondônia e Roraima, graças ao projeto idealizado por ele de planejamento do uso das terras por um Zoneamento Ecológico e Econômico. Um passo fantástico porque são áreas com grande pressão de uso e que podem ficar desordenadas, se não houver um planejamento. Ele está criando uma escola. É um multiplicador de conhecimento sem vaidade que quer o melhor para o seu estado”, diz João Luiz Lani, considerando a homenagem do Sistema “justa e merecida”.

“Para mim foi uma surpresa. O Sistema fortalece a engenharia porque nos mantém unidos como um corpo de engenheiros com histórias diversas de luta. Um prêmio nos relativiza, nos humaniza, nos coloca iguais a outros e inspira outros. Muito me honra esse reconhecimento do Confea pelo simbolismo do prêmio e sua relevância de poder ser um instrumento de inspiração. Cada um de nós é um herói”, diz, dividindo a Láurea com os engenheiros agrônomos, florestais, ambientais e outros colegas do Sistema.


Trajetória profissional

Professor da Universidade Federal do Acre – Ufac (1992-1997); Pesquisador da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre – Funtac (1993-1997); No Centro de Pesquisa Agroflorestal do Acre na Embrapa-AC: pesquisador (1997-atual) e chefe-geral (2013-2021); Secretário de Meio Ambiente do Estado do Acre (2007-2010); Agraciado com o prêmio Cidadão Verde, da Câmara Municipal de Rio Branco (2007); Diretor-presidente do Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais do Acre – IMC (2011-2013); Agraciado com o Prêmio Chico Mendes de Florestania (2016); Cidadão Rio-branquense (2020).