Salvador, 29 de outubro de 2007
O alerta feito pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da Bahia (Crea -BA) quanto aos problemas do Túnel Américo Simas voltou a preocupar os baianos após o deslizamento de terra que fechou o Túnel Rebouças, principal via de ligação entre as zonas norte e sul do Rio de Janeiro. A análise aponta para construções desordenadas, desmatamento irregular e infiltrações que comprometem a segurança da ligação entre as partes alta e baixa de Salvador. O órgão identificou as irregularidades e apontou risco eminente no início deste ano, porém nada ainda foi feito. Além disso, rachaduras podem ser vistas em outros túneis da cidade.
As construções nas encostas que cercam o Túnel Américo Simas, conforme o engenheiro Jonas Dantas, presidente do Crea-BA, promove a desagregação do terreno. "Todo terreno tem uma coesão se você altera é como se tivesse agredindo. Por exemplo, esse tipo de construção se dá após o desmatamento da cobertura vegetal e natural do terreno. Com isso, você potencializa os riscos porque a coesão das partículas de solo vai embora", explica.
Esse problema pode se agravar nos períodos chuvosos. "Isso porque, em períodos chuvosos, o impacto da chuva no terreno em que o solo foi agredido é muito maior que nos casos em que a cobertura vegetal é preservada. Neste caso, ao bater no solo (sem cobertura vegetal) a água da chuva quebra a estrutura de coesão das partículas que o compõem. Na prática, abrem-se inicialmente pequenos sulcos que posteriormente se transformam em crateras. Nos casos mais graves a água leva tudo o que tem pela frente", informa Dantas.
Outro problema apontado pelo presidente do Regional é ausência de saneamento básico, o que aumenta de modo considerável os riscos de um deslizamento de terra. "São construções feitas sem qualquer tipo de fundação. Outro agravante é que o esgotamento sanitário é lançado diretamente no terreno. Esse lançamento contínuo também desagrega o terreno. Ou seja, além de deteriorar o solo você o contamina com o lançamento de esgoto no local e a tendência é aumentar a ocorrência de deslizamentos principalmente nos períodos de alto índice pluviométrico", aponta.
A estrutura do túnel também está comprometida e, mesmo por quem passa pelo local, as rachaduras podem ser vistas. "Há uma falha geológica e toda região de falha é caracterizada pela instabilidade. Mesmo nos casos em que a falha geológica está inativa não há como oferecer segurança. O que ocorre no Américo Simas é que a estrutura da rocha está fraturada e essas fraturas permitem percolação (infiltração) da água. Isto é, qualquer peso colocado sobre ela agrava a situação e ela pode vir a se movimentar. A soma de fatores como alto índice pluviométrico e construção irregular sobre falha geológica aumenta os riscos de acidentes, a exemplo de deslizamentos", alerta Dantas.
Para o presidente do Crea -BA, não deveria haver nenhum tipo de construção residencial naquela área. "A prefeitura deveria investir num sério trabalho de remoção das famílias para áreas seguras, impedindo novas ocupações", afirma. Além disso, Dantas alerta que a instabilidade daquela área é alta, pois o paredão é o espelho da falha, um local altamente deslizante. "As construções contribuem para acelerar a instabilidade. A qualquer momento pode haver um desastre grave, principalmente em períodos de fortes chuvas". Nesses casos, explica o presidente do Crea-BA, a chuva funciona como um lubrificante, um agente que vai desagregar ainda mais materiais presentes na zona de falha, a exemplo das construções.
Fonte: Tribuna da Bahia