João José Bigarella

Químico pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná, em 1943; Químico Industrial pela Escola de Química do Paraná, em 1945; Engenheiro Químico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1953; Professor catedrático em Mineralogia e Geologia Econômica na UFPR, em 1956.


Nascimento: 23 de setembro de 1923
Falecimento: 5 de maio de 2016
Naturalidade: Curitiba (PR)  
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)

 

Perfil
Natural de Curitiba (PR), casado com a pesquisadora e artista plástica Íris Erica Koehler Assenburg Bigarella, João José Bigarella viveu 92 anos, dos quais 70 deles foram dedicados à docência, à pesquisa e à preservação ambiental, tornando-se referência internacional, um ícone da Geologia e das Geociências. Uma de suas principais áreas de atuação era o estudo sobre a movimentação dos continentes, em escala planetária. Como pesquisador, realizou extensos trabalhos de pesquisa geológica na África do Sul, Namíbia, Angola, Argélia (Saara), Argentina, Uruguai e Paraguai, a respeito da movimentação dos continentes, geomorfologia do quaternário brasileiro e os problemas relacionados à deriva continental.

João José começou sua carreira de pesquisador na década de 40, quando estava para terminar o curso de Química Industrial, e o professor João Ludovico Weber o convidou para trabalhar no Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas (IBPT) no laboratório de Mineralogia e Geologia. O estímulo para a carreira de pesquisador e o interesse pela Geologia se deu pela convivência com um de seus mentores, o alemão e geólogo Reinhard Maack. Somado a isso, a vivência de Bigarella no Museu Paranaense, onde ele dizia ter desenvolvido a capacidade de pesquisa. Essa confluência despertou nele o interesse para o ramo da Geologia. 

Em suas declarações, Bigarella afirmava que não havia sido preparado academicamente para desempenhar qualquer trabalho sobre Geografia ou Geologia.

“O que consegui foi mais por intuição ou por preparação subconsciente que aos poucos veio aflorando no consciente. O autodidatismo na Geologia e Geomorfologia, apesar das inúmeras desvantagens, teve o benefício de não sofrer influências mais profundas de algumas escolas de pensamento. Possibilitou, mais tarde, a realização de vários trabalhos, entre eles a revisão de conceitos na Geomorfologia brasileira sem a influência de escolas clássicas”, assegurou o profissional em uma entrevista.

Em 1948 teve início sua vida acadêmica como professor, quando começou a lecionar Mineralogia e Petrografia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná, que viria a ser a Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1950.  Bigarella se considerava mais pesquisador que professor. Provavelmente por isso, uma de suas características como docente era de ser um incentivador de aula em campo, pois acreditava que o aprendizado pleno só existia com a prática, que contribuiria para ampliar os horizontes profissionais. E esse binômio professor/pesquisador foi responsável por formar muitos alunos que se tornariam professores, pesquisadores, contribuindo de sobremaneira para o desenvolvimento da ciência no país.

Umas das características de João era seu olhar investigativo sobre a paisagem, desvendando sua origem, aplicando todo seu conhecimento a ponto de criar um aparelho que o auxiliasse na sua interpretação, o “bigarelômetro”, que é uma espécie de medidor da influência dos ventos.

No decorrer de sua trajetória, o professor, o geólogo, o cientista, sempre direcionou seus conhecimentos em prol da preservação da natureza, sendo também um ativista ambiental. Em 1974, Bigarella, juntamente com sua esposa e incentivadora, Íris Assenburg, foi um dos fundadores da Associação de Defesa e Educação Ambiental (Adea), a primeira organização ambientalista, sem fins lucrativos, do Paraná. A Adea teve importante papel em diversos projetos ambientais no estado, como o tombamento da Serra do Mar, em 1978, que culminou com a criação do Parque Estadual Pico Marumbi. 

Parte desse conhecimento está presente nos mais de 200 trabalhos publicados em vários países, além do Brasil.  O reconhecimento em vida se deu por vários prêmios e condecorações. E a partir de 2018, por meio das Honrarias do Mérito, o Sistema Confea/Crea registra sua homenagem a esse profissional paranaense pelo relevante serviço prestado ao país, à valorização das geociências, da pesquisa, por sua atuação e formação de novos profissionais. 

 

Trajetória Profissional 
Professor titular da Universidade Federal do Paraná – UFPR (1949-1980); Medalha de Ouro José Bonifácio de Andrade e Silva, Sociedade Brasileira de Geologia (1966); Prêmio Francisco Sales de Azevedo, conferido pela Sociedade Brasileira de Cerâmica (1968); Engenheiro de Destaque – Instituto de Engenharia do Paraná (1969); Membro e vice-presidente do Programa Internacional de Correlação Geológica da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e  União Internacional de Ciências Geológicas - IUGC  (1973-1976); Membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências da América Latina; Presidente da Associação de Defesa e Educação Ambiental – Adea (1974-1994);  Membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama (1983); Recebeu o Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (1987); Prêmio Heleno Fragoso pelos Direitos Humanos (1991);  Prêmio- Sócio  Honorário da Associação Paranaense de Engenheiros Florestais, Prêmio Almirante Álvaro Alberto – Conselho Nacional de Pesquisa (1992); Título "Cidadão Benemérito do Paraná" - Governo do Estado do Paraná (1997); Título "Vulto Emérito" – Município de Curitiba (1998); Título "Cidadão Honorário", Município de Guarapuava (1998); Título "Cidadão Benemérito", Município de Matinhos (1999); Criou a Fundação João José Bigarella – Funabi (1998); Assumiu a cadeira 22 da Academia Paranaense de Letras (2013).