Joffre Mozart Parada

Engenheiro de Minas e Civil pela Escola Nacional de Minas e Metalurgia de Ouro Preto (MG), em 1949.

Nascimento: 18 de dezembro de 1924
Falecimento: 9 de dezembro de 1976
Naturalidade: Vianópolis (GO)
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (Crea-DF)


Perfil

Quando meninas, as quatro não percebiam a importância do pai. Era muito procurado, a casa vivia cheia de gente. Viam desenhos espalhados pela mesa de jantar, pedras e minérios empilhados em vários cantos, mas não se davam conta - como afirmam pesquisadores, historiadores, documentos, fotos e depoimentos – que eram filhas de Joffre Mozart Parada, “o primeiro engenheiro, e com dupla formação, a chegar ao local da futura capital”, Brasília, idealizada pelos colonizadores portugueses e realizada por Juscelino Kubitschek.

Como engenheiro-chefe da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital Federal, Joffre Mozart Parada “realizou a demarcação e mapeou as fazendas a serem desapropriadas, para assentar o futuro Distrito Federal”. É dele a assinatura em coautoria com o engenheiro Janusz Gerulewicz, do mapa “Novo Distrito Federal – Planta índice cadastral” –, desenhado com base em fotografias aéreas que o ajudaram a definir os limites das fazendas dentro do perímetro do novo Distrito Federal, criando assim as condições para que os proprietários obtivessem suas escrituras.

Joffre foi o primeiro engenheiro a chegar ao local onde mais tarde Brasília seria erguida.

Todo esse movimento se refletia dentro de casa e faz parte das lembranças das filhas - Thelma, 63 anos, engenheira civil; Gláucia Marina, 72, paisagista; Márcia Helena e Vânia Mara, gêmeas, com 61 anos, ambas administradoras de empresas, nascidas do casamento de 22 anos de Joffre com Mercedes Ribas Parada, já falecida. Nas histórias da família, consta que ela foi sua primeira paixão: a primeira vez que a pediu em casamento, tinha cinco anos de idade.

Joffre atuou como perito-avaliador, era procurado pelos proprietários de então, nem sempre com bons propósitos. Thelma, a curadora das memórias da família, conta: “Certo dia, um fazendeiro apareceu lá em casa. Queria que suas terras tivessem valor maior para receber mais dinheiro. Hum, meu pai tocou o homem para fora de casa!”.

Filho de maquinista de trem e dona de casa, Joffre enfrentou muitas dificuldades nos tempos de estudante.  Com o diploma na mão, foi trabalhar em Goiânia no Departamento de Estradas de Rodagem de Goiás, onde conheceu Bernardo Sayão, engenheiro e personagem da história que conta os primórdios de Brasília.
Atuando como assistente de Sayão, chefiou a Divisão de Topografia Urbana da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), onde sempre era visto com uma régua de cálculo na mão e era conhecido como “o homem da régua”.

Em 1955, foi Joffre quem definiu o Marco Zero da Capital.  Antes, em 1953, construiu o trecho-Itumbiara, da Transbrasiliana (BR-14), para ligar o Centro com o Sul e Leste do país. Joffre marcou presença na Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante: escolheu o local, demarcou a estrutura e foi prefeito da cidade. Em parceria com o arquiteto Paulo Hungria, assina ainda o projeto de urbanização do Gama.

Enquanto professor, deu aulas na Universidade de Brasília (UnB), onde coordenou o Instituto Central de Geociências e ajudou a fundar a Escola de Engenharia do Brasil Central (EEBC), hoje, incorporada à Universidade Federal de Goiás (UFG). Para as quatro meninas, entre as aulas nas primeiras escolas e as brincadeiras nos quintais da casa da Candangolândia e a da 706 Sul, quando ainda era conhecida como Quadra 13, onde moraram, a vida seguia seu ritmo, sempre acelerado, enquanto o pai fincava as bases dos edifícios projetados por Oscar Niemeyer.

O jornal Correio Braziliense, em edição de dezembro de 1976, registra que Joffre está presente “da Praça dos Três Poderes a conjuntos habitacionais; do Eixo Rodoviário ao Aeroporto...”. A mesma reportagem afirma: “O trabalho de Joffre foi tão seguro e preciso que até hoje ninguém levantou qualquer dúvida sobre a demarcação e topografia do conjunto urbanístico do Plano Piloto”. 

Em casa, sempre sério e pouco efusivo, uma das raras vezes em que Thelma lembra que o pai se mostrou orgulhoso foi quando, sorrindo, apontou o livro Who’s who in the world (Quem é quem no mundo) 3ª edição, 1976/77, Chicago USA, que traz seu currículo. O livro, publicado anualmente desde 1849, é uma fonte de dados biográficos de milhares de pessoas influentes em todo o mundo.

Joffre está presente na história da terra, dos minérios e mistérios do Centro-Oeste brasileiro.

Joffre parecia saber que sua trajetória de vida seria curta. Era tão intenso o seu dia a dia que, em 1968, em sua coluna diária no Correio Braziliense, o jornalista Ari Cunha conta uma história que dá a dimensão do ritmo de seu trabalho. O jornalista começa afirmando que Joffre era bom de serviço e havia criado um sistema de coordenadas cartesianas ortogonais para armação e cotas, pois não havia topógrafos para fazer as locações. “Um dia foi informado de que a Novacap havia recebido uma oferta de serviço de um topógrafo, só que não tinha instrumentos para trabalhar. Mas isso foi rapidamente solucionado e o rapaz se apresentou a Joffre, que rapidamente e sem parar de falar, dava as recomendações. Até que aproveitando uma brecha na respiração de Joffre, o rapaz interrompeu para se explicar: nunca fora topógrafo. Na informação havia um erro. Ele era tipógrafo”.


Trajetória Profissional
Autor dos seguintes trabalhos publicados realizados na área de Geologia: Relatório final da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital Federal, indicando todas as fazendas cadastradas, delimitadas, mapeadas e classificadas, com registro dos acidentes geográficos encontrados em cada uma; Coautor, com Janusz Gerulewicz, do mapa do então novo Distrito Federal (DF), (1956 – 1958); Assistente técnico de Bernardo Sayão, implantou as cidades do Núcleo Bandeirante e Brasília; Marcador dos furos para sondagem da barragem hidrelétrica do Paranoá; Autor do levantamento das jazidas de materiais para construção dentro do DF, como pedreiras de quartzo e calcário, de areia de granulação, argilas e argilitos para cerâmica; Fundador e professor da Escola de Engenharia Civil do Brasil Central - EEBC,  hoje incorporada à Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, nas matérias de  Trigonometria nos cursos preparatórios aos candidatos ao vestibular; Professor nomeado de Centrais Elétricas e de Geometria Analítica e Cálculo Vetorial (1953-1954); Elemento de ligação entre a Companhia Urbanizadora da Nova Capital - Novacap e o Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM (1957 – 1961 – 1965 – 1967); Assistente do engenheiro Bernardo Sayão, na diretoria da Novacap e na Diretoria da Rodovia Belém/Brasília – Rodobras (1957); Responsável técnico pela inscrição dos loteamentos da cidade de Brasília nos Cartórios de Registro de Imóveis das Comarcas de Planaltina e Luziânia e Brasília (1957 – 1961); Engenheiro-chefe dos Serviços Técnicos da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital Federal, do governo de Goiás, encarregada do cadastramento e desapropriação dos imóveis rurais, situados no perímetro do atual DF, abrangendo uma área de cerca de 5.800km2; Engenheiro-chefe do Departamento de Estudos e Projetos da Novacap (1960-1961); Presidente do Conselho Rodoviário do DF (1966-1973); Engenheiro-chefe do grupo de trabalho de Energia-Hidroelétrica do DF, do Departamento de Força e Luz da Novacap, atual Companhia Energética de Brasília (CEB); Colaborador na feitura do mapa do Distrito Federal (1960); Coautor com o arquiteto Paulo Hungria, do projeto de urbanização da cidade-satélite do Gama (1960); Professor-colaborador da disciplina de Geologia Aplicada à Engenharia Civil na Universidade de Brasília - UnB (1966 – 1968); Autor do trabalho Estação Sismológica Experimental de Brasília (1966); Coordenador do Instituto Central de Geociências da UnB (1966 – 1967); Autor de estudos para o aproveitamento hidroelétrico da Cachoeira do Queimado, no rio Preto, entre Goiás e Minas Gerais (1966); Autor dos estudos que viabilizaram a construção da estrada Belém-Brasília (1966); Professor de Geologia Aplicada a Estradas de Rodagem, no curso de Pavimentação promovido em Brasília pelo Instituto de Pesquisas Rodoviárias (1967); Secretário de Serviços Públicos do DF (1967 – 1968); Secretário de Serviços Sociais do DF (1968 – 1970); Membro do Grupo Sismológico de Brasília que instalou a Estação Sismológica Experimental de Arranjos e mais duas definitivas, a Grande Estação de Arranjo da América Latina (SAAS), em Brasília e a Estação Standart do United States Coast and Geodetic Survey (WWSS); Presidente da Cooperativa de Eletrificação Rural de Santa Luzia Ltda. (1970 – 1973); Presidente do Clube de Engenharia (1971- 1973); Presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do DF (1974 – 1975).