Conselheiros federais descrevem atual cenário da Agronomia no país

Brasília, 10 de outubro de 2014.

"Conselheiro federal e engenheiro agrônomo Daniel Salati: busca pela harmonia das diretrizes curriculares para a modalidade"
No final deste mês, em Areia (PB), representantes da Coordenadoria Nacional das Câmaras Especializadas de Agronomia (CCEAGRO), Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil (Confaeab) e da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (Abeas) reúnem-se com o ministério da Educação para tratar de temas relativos à atualização das diretrizes curriculares da modalidade. E um dos engenheiros agrônomos envolvidos diretamente com este debate, que terá continuidade em dezembro, quando o Confea promoverá um seminário junto ao Conselho Nacional de Educação para tratar também das demais áreas, é o conselheiro federal Daniel Salati, que, em depoimento para esta reportagem em homenagem ao Dia do Engenheiro Agrônomo (12/10), defende que estes dois encontros poderão gerar um documento único que sane as deficiências das atuais diretrizes curriculares da modalidade.

“As últimas diretrizes curriculares do Mec são de 2006. Precisamos de novas diretrizes curriculares, envolvendo a extensão rural, modificando, assim, todo o projeto pedagógico. Então, esperamos tirar uma opinião dessas três entidades, que deverá ser levada à reunião com o Conselho Nacional de Educação, em dezembro”, sugere Salati, integrante da Comissão de Educação e Atribuição Profissional (Ceap), do Confea. Ele também estipula que outro momento importante para a área será a discussão em torno do Receituário Agronômico, promovida pela Confaeab, nos dias 14 e 15 próximos, em Belo Horizonte. “Não podemos confundir receituário com receita. O receituário é muito mais abrangente, envolve toda uma região e compromete aplicadores (mão de obra) e o destino final (consumo)”, destaca.

Produtividade

Para o engenheiro agrônomo José Geraldo Baracuhy, um dos responsáveis pelo sucesso da primeira edição do Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia (Contecc), realizado pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), durante a 71ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia, em Teresina, no mês agosto deste ano, o avanço da Agronomia mundial, em particular a do Brasil, passa pela inovação no campo da variedade, da produtividade e da eficiência. O resultado desse permanente processo de evolução desta ciência é que “a Agronomia provou que a tese de Malthus estava errada”.

A afirmação destaca a posição do economista e demógrafo britânico Thomas Malthus, cuja teoria populacional, sugeria, em fins do século XVIII, que a produtividade de alimentos cresce em progressão aritmética, enquanto a densidade populacional avançaria em progressão geométrica. “Temos crescido muito, transformando terras antes improdutivas como o cerrado em uma das regiões mais produtivas do mundo, e conseguimos, ao longo desses últimos 25, 30 anos, não só aumentar safras, que hoje beiram 200 milhões de toneladas, enquanto, por volta de 1975, elas estavam em torno de 30, 40 milhões de toneladas. E com um reflexo social muito importante, o alimento ficou muito mais barato, incluindo os principais alimentos”.

"Conselheiro José Geraldo Baracuhy: Agronomia reverteu a lógica de Malthus"
O conselheiro federal pondera que plantações que não fornecem alimentação direta, como a de fibra de algodão e a de cana-de-açúcar voltada para a produção do álcool, “que fez com que o Brasil dominasse esse recurso de energia renovável”, não competem com a produção alimentícia. José Geraldo Baracuhy argumenta que, conforme o zoneamento agrícola, as áreas de produção de cana-de-açúcar não são propícias para muitas outras variedades de produto. “A produção agrícola cresceu muito mais que a ocupação de área, estamos aumentando a produtividade e usando inclusive as áreas de pastagens, segundo a lógica da tecnologia intensiva, que estipula que o gado não é para andar”.

PIB e responsabilidade social

Diretor institucional do Conselho Diretor do Confea, membro da Comissão de Educação e Atribuição Profissional (Ceap) e conselheiro representante das instituições de ensino superior do grupo Agronomia, no Confea, José Geraldo Baracuhy ratifica a importância do agronegócio para o crescimento do PIB brasileiro. “A economia do país depende muito da Agronomia, uma atividade que está antes da porteira, para o insumo chegar à produção, atrás da porteira e depois que sai da propriedade, quando se define se o produto vai ser processado ou in natura. Então, essa cadeia fundamental para o desenvolvimento do país envolve uma gama de serviços cuidados pelo engenheiro agrônomo”.

O avanço da Agronomia envolve um cenário com perspectivas não apenas quantitativas, mas também qualitativas, em relação aos agrônomos hoje atuantes no mercado. De acordo com o conselheiro federal, a pesquisa tecnológica para o agronegócio é repassada a partir da academia para profissionais que vão trabalhar em propriedades, na pesquisa ou na extensão. “Somos uma das raras formações sistêmicas, considerando que o engenheiro agrônomo frequenta disciplinas de sociologia, economia, administração, além da atividade-fim, ou seja, é um profissional que possui conhecimento da sua responsabilidade social”.

Outro ponto destacado por José Geraldo Baracuhy é que a competitividade do mercado levou a uma maior concorrência para os egressos no curso. “As tecnologias hoje são importantes para a metodologia de ensino, como o uso do GPS e as tecnologias de controle, conhecimentos ligados a tendências internacionais, que temos que repassar para os alunos para que haja uma aplicabilidade dos conhecimentos futuros”. Assim, o conselheiro define a adequação às habilidades curriculares.

“O avanço cotidiano da tecnologia renova o projeto curricular. Vamos discutir em Areia, no final do mês, a experiência de várias universidades da modalidade da Agronomia. Portanto, envolvendo não apenas os engenheiros agrônomos, será um momento mais sistêmico, discutindo as nossas competências, uma vez que não temos muitos conflitos”, diz, considerando ainda que a Agronomia tem uma participação efetiva no plenário do Confea. “Temos prestado relevantes serviços ao Sistema, em matérias relativas a todas as modalidades”.

"Conselheiro Mário Amorim: desenvolvimento sustentável e importância econômica"
Outro conselheiro federal a destacar o papel da Agronomia para o desenvolvimento brasileiro é o representante do Crea-RN. Mário Amorim comenta que acredita na importância do Engenheiro Agrônomo para o desenvolvimento sustentável e solidário do Brasil, “face à inserção de seus conhecimentos nos cenários da produção e da produtividade do setor em que nos inserimos”. Coordenador-adjunto da Comissão de Controle e Sustentabilidade do Sistema (CCSS), membro da Comissão do Mérito e coordenador-adjunto do GT Ordem Econômica, Amorim assevera ainda que “o desempenho exuberante da atividade agropecuária brasileira conta com a presença ativa dos profissionais da Agronomia, os quais contribuem para a conquista do destaque econômico  que tem revelado o setor rural do país. Nossa saudação aos Engenheiros Agrônomos brasileiros pelo seu dia celebrado neste 12 de outubro”, enviada por e-mail.

Sustentabilidade

A responsabilidade social do engenheiro agrônomo é lembrada também pelo conselheiro suplente do Rio Grande Norte, eng. agr. Emmanoel Mateus Alves Costa. “A profissão de engenheiro agrônomo tem um caráter forte, tanto na questão econômica, como no social, porque ela trata da geração de alimentos”, diz, lembrando que a profissão foi a primeira a ser regulamentada no país.

"Conselheiro Emmanoel Costa: câmara especializada e sustentabilidade"
O debate ético sobre o uso de agrotóxicos e a produção transgênica e ainda as interfaces com outras modalidades, em relação a práticas como paisagismo e jardinagem, “áreas que remetem ao conhecimento da fisiologia vegetal, nutrição mineral de plantas e à formação do solo”, também estão sendo discutidas por Emmanoel junto à Coordenadoria Nacional de Câmaras Especializadas de Agronomia, na qual ele atua como representante do estado do Rio Grande do Norte.

Emmanoel também traça um paralelo com a temática da sustentabilidade. “Este é o grande desafio atual, encontrar mecanismos sustentáveis para dar alimento a seis ou oito bilhões de pessoas nas próximas décadas”. Para ele, o engenheiro agrônomo está  ocupando seu devido espaço em relação às políticas públicas do país, ao tratar de perto de temas como  alimentos, recursos naturais, vegetações ciliares e florestas.

“Estas foram, durante muito tempo, destruídas para abrir fronteiras agrícolas, e hoje não, o que remete a políticas públicas mais voltadas à questão da preservação. Assim, algumas ações estão fortemente demandadas, como o Cadastro Ambiental Rural, identificando toda a estrutura agrícola e natural, áreas de preservação permanente, reservas naturais, orientando para que a fronteira agrícola respeite a questão ambiental”.

Segundo ele, o Sistema tem participado, por meio da CCEAGRO, diretamente deste debate. “Em setembro, estivemos reunidos em Natal e discutimos o porquê de não estar sendo exigida a presença do engenheiro agrônomo, inclusive com a emissão da ART, no Cadastro Ambiental Rural. Em cima do cadastro, vai ser elaborado o plano de reflorestamento da área degradada. E dessa forma, ele será fora da realidade”.

"Conselheiro João dos Anjos: Agronomia e preservação do meio ambiente"
Coordenador da Comissão Eleitoral Federal (CEF), coordenador adjunto da Comissão de Organização, Normas e Procedimentos (Conp), integrante do GT Ordem Econômica e diretor financeiro do Conselho Diretor do Confea, o engenheiro agrônomo João Francisco dos Anjos lembra, em depoimento também enviado por e-mail, que, “nesse momento em que os engenheiros agrônomos do País celebram seu dia, a comemoração pela simples comemoração não pode acontecer, pois estamos sim em um momento de reflexão, no sentido de buscar a produção de alimentos saudáveis para as populações mundiais, com produtividade cada vez maior, mediante técnicas mais aprimoradas, que não só visem preservar o que ainda resta do meio ambiente, como também recuperar o que foi degradado como forma de manter a sustentabilidade do planeta”.

Outro conselheiro federal bastante envolvido com a discussão ambientalista é o representante do Crea-RJ, Ibá dos Santos Silva. Com vasta atuação na área, atuando de perto em unidades de conservação, como as Áreas de Preservação Ambiental (Apas) e outras e ocupando cargos como o de diretor do Departamento de recursos Naturais da Secretaria de Agricultura do Rio de Janeiro (que daria origem ao Instituto Estadual de Florestas e ao atual Instituto Estadual do Ambiente - Inea), o engenheiro agrônomo também participou de vários eventos relacionados ao meio ambiente, desde a ECO-92, até a recente Rio + 20, em 2012, já representando o Confea e ajudando a promover um acordo de cooperação técnica entre o Confea e o ministério do Meio Ambiente que ainda tem gerado frutos, ao ampliar o debate em torno de temas como recuperação de encostas, resíduos sólidos e aproveitamento de resíduos orgânicos para a produção de adubos.

“Ao longo desse tempo, fui percebendo mais claramente que não havia só o sistema clássico de produção, mas também o sistema de produtividade orgânica, as agroflorestas, mais identificado com a questão ambiental, que pouco a pouco começou a se falar. Foi possível mostrar ao produtor rural que aquilo era não só economicamente viável, mas também preservava a natureza, como uma reserva para ele, com reflexos inclusive culturais, como a valorização da culinária regional”, descreve o conselheiro, que ao passo em que ampliava sua visão do desenvolvimento sustentável, também mantinha atuação classista, nos anos 70, no fórum que daria origem à Associação de Engenheiros Agrônomos do Rio de Janeiro, passando depois a atuar junto ao Crea-RJ e ao Clube de Engenharia do Rio de Janeiro.

"Engenheiro agrônomo e conselheiro Ibá dos Santos Silva apresenta uma visão sofisticada da sustentabilidade no país"
Foi no período entre a ECO-92 e a Rio+20 que ele pôde valorizar ainda mais o papel da gestão das unidades de conservação e das matas florestais, procurando ampliar a defesa da importância de conciliar o valor econômico com a preservação ambiental. “Hoje, há uma grande procura por sementes com certificados de sanidade e procedência, agregando valor à propriedade rural e sendo uma medida importante para o ecossistema. Com o aumento da temperatura, é preciso desenvolver mudas arbóreas junto à produção, senão esta se tornará inviável”, sugere Ibá, acrescentando que o Cadastro Ambiental Rural poderá ser um instrumento para ampliar a percepção da importância desse valor econômico agregado. “Ele tem que ser feito de maneira precisa, considerando que o engenheiro agrônomo e o engenheiro florestal têm uma visão complementar”, diz, afirmando ainda que vários engenheiros agrônomos também deram sua contribuição para o novo Código Florestal.

Henrique Nunes

Equipe de Comunicação do Confea


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