Vitória, 7 de outubro de 2025

Se a economia azul fosse um país, seria a sexta maior economia do mundo: movimenta US$ 1,5 tri. 80% dos seres vivos do planeta está nos oceanos. O maior setor gerador de empregos é a pesca e a aquicultura (seguida por turismo e petróleo e gás). São 40 milhões de empregos gerados, sem considerar os empregos formais. Os dados foram apresentados pelo professor Marcos Brabo, engenheiro de pesca com forte atuação na área.

Em sua apresentação no painel "Engenharia de Pesca frente aos desafios da economia azul e da resiliência climática", Brabo comparou o mapa do Brasil como se aprende nas aulas de Geografia com como deveria ser disseminado na verdade: com as águas juridicionais. Brabo mencionou ainda o Planejamento Espacial Marinho*, instituído pelo Governo Brasileiro em 5 de junho de 2025. "A engenharia de pesca tem que estar nessa discussão", conclamou.
- *processo público de distribuição espacial e temporal de atividades humanas em áreas marinhas, para alcançar objetivos ecológicos, econômicos e sociais.

O painel fez parte da programação da 80ª Soea, na tarde desta terça-feira (7/10). A primeira palestrante, professora Fatima Lucia de Brito, engenheira de pesca, atuante em fisiologia de peixes, enzimologia e genotoxicidade, traçou um resgate histórico do termo "economia azul". O conceito foi concebido em 1994, mas surgiu publicado apenas em 2010, no livro The blue economy, do economista belga Gunter Pauli. "É um conceito desenvolvido para se referir ao uso sustentável dos recursos proporcionados pelos oceanos".

Ela explicou que a ideia da economia azul é gerar empregos, riqueza e conservação dos ambientes aquáticos. "A saúde dos oceanos deve ser tão importante quanto crescimento econômico e princípios de equidade e inclusão social", explicou Fátima, segundo quem 40% dos oceanos estão prejudicados por pescas predatórias e poluição, entre outras práticas.

"A gente tem que ampliar o conceito de economia azul para além dos oceanos". Assim iniciou sua exposição o secretário-executivo do Ministério da Pesca e Aquicultura Edipo Araújo Cruz, também engenheiro de pesca. "O tema se expande além do mar e atende os rios".
O Brasil é uma potência azul, ele disse: aqui está 12% da água doce do planeta, e 53% dos recursos hídricos da América do Sul. R$ 25 bi do PIB vêm da pesca e da aquicultura. O Brasil tem 2 milhões de pescadores artesanais e industriais, dos quais 50% são mulheres (sem contar os 279 mil amadores e esportivos). "A pesca e a aquicultura sustentáveis são pilares da economia azul".

Na sequência, a CEO da empresa de organismos aquáticos ornamentais Recife de Peixes, Carolina Martins, doutora em piscicultura marinha, contou um pouco sobre a rotina de seu empreendimento. "Para a aquicultura, o engenheiro de pesca é primordial. Ele é multidisciplinar, com conhecimentos aplicados no dia a dia", diz. Na parte de tecnologia, o peixe ornamental serve de laboratório para a aquicultura, por exemplo para testar monitoramento de água via inteligência artificial, programar o equipamento via celular, iluminação para deixar o peixe mais confortável.

Carolina compartilhou, no entanto, dificuldades na regulamentação. Enquanto outros governos garantem regramentos que previnem a propagação de doenças e protegem os ecossistemas aquáticos nativos, no Brasil, o setor aquicultor ainda reúne esforços para sensibilizar as autoridades. "Alguns projetos são realizados nos âmbitos científico e comercial, mas ainda falta um olhar mais dedicado".

Última palestrante do painel, a estudante de Engenharia de Pesca, técnica em Aquicultura e diretora de Comunicação do Crea-Júnior-ES, Ana Cecília Feres defendeu que as medidas têm que ser tomadas agora, que as consequências das mudanças climáticas já são tempo presente, e não futuro. "Nosso papel é mostrar a importância real da Engenharia de Pesca, das pesquisas e dos ecossistemas". Feres apresentou iniciativas como o AlgasBio - que utilizava algas arribadas em biofertilizantes (que substituíam agrotóxicos) -, e o Vozes do Manguezal - de educação ambiental para preservação de manguezais.
Encerrando as atividades, a mediadora do painel, presidente do Crea-AM, Alzira Miranda, revelou que desde criança queria ser engenheira de pesca, e que para algumas pessoas isso era inacreditável. "A gente precisa difundir o que nossas profissões fazem. Podemos cuidar do ecossistema para trazer alimento pra mesa".

No dia a dia, o engenheiro de pesca desenvolve e aplica métodos e tecnologias para localizar e capturar espécies aquáticas; implementa e gerencia fazendas aquícolas; trabalha no controle microbiológico de pescados e do ambiente aquático; atua no projeto e manutenção de embarcações e equipamentos para a pesca e aquicultura; promove a sustentabilidade e o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação dos recursos naturais, entre muitos outros.
Beatriz Craveiro
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Sto Rei e Impacto/Confea