Tecnologia e formação profissional em debate na Ilha Conexões da Soea

Vitória (ES), 9 de outubro de 2025.

A transformação digital no campo e os novos desafios da formação profissional foram temas centrais do painel “Inovação digital e formação profissional”, realizado na tarde desta quinta-feira (9) na Ilha Conexões, durante a 80ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea). O debate reuniu o engenheiro agrônomo Samuel de Assis Silva, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e colunista sobre inovação e tecnologia nas ciências agrárias, e o professor doutor Willian Bucker Moraes, do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias da Ufes.

Soluções digitais para o agro do futuro
Abrindo o painel, Samuel de Assis Silva apresentou o tema “Soluções digitais para agricultura e silvicultura”, destacando que fatores socioeconômicos e ambientais terão impacto direto nas cadeias do agronegócio nas próximas décadas. Ele lembrou que, até 2050, a população mundial deve atingir 10 bilhões de pessoas, com aumento previsto de 24% nas emissões de CO₂ e acesso à internet chegando a 90% da população global, cenários que exigem novas formas de produzir com sustentabilidade.

Para enfrentar desafios como as mudanças climáticas, escassez de água e conservação do solo, Samuel ressaltou a importância da integração entre ciência, academia e setor produtivo. “A formação profissional tem papel essencial nesse processo, tanto na pesquisa aplicada quanto na pesquisa básica, que gera conhecimento e amplia nossa capacidade de responder aos desafios do nosso tempo”, afirmou.

O professor mostrou ferramentas digitais que já estão transformando a agricultura, como o uso da Inteligência Artificial (IA) para detectar níveis de infestação e já em desenvolvimento para identificar até mesmo as espécies das plantas daninhas. Essas informações coletadas servem de base para uma análise profunda e detalhada e apoiam as decisões e mudanças nas áreas da agricultura e silvicultura. Também citou o avanço da tokenização de ativos agrícolas via blockchain, a Internet das Coisas (IoT) e a robotização das propriedades rurais, que permitem criar sistemas integrados e inteligentes.

Entre as tecnologias mais promissoras, destacou o conceito de “digital twin” (gêmeo digital), que simula situações reais da fazenda para prever resultados e reduzir erros operacionais, tornando os sistemas mais eficientes. A tecnologia simula situações que depois são testadas, experimentadas. Esses dados voltam para a ferramenta e servem para a tomada de decisões mais assertiva. “A lavoura do futuro não será apenas produtiva, será conectada, inteligente e sustentável”, afirmou.

De acordo com dados apresentados, sistemas inteligentes podem reduzir em até 35% os custos de produção, com economia, por exemplo, no uso de defensivos e fertilizantes; e aumentar em 28% a produtividade. Contudo, Samuel alertou que o avanço tecnológico precisa vir acompanhado de preparo dos profissionais e adaptação do setor. “Nem todo produtor está pronto para usar a tecnologia, a tecnologia existente ainda não atende à realidade de todos os produtores e nem todos os profissionais estão prontos para usá-la. É preciso fortalecer a conexão entre produtores, empresas e academia”, completou.

Formação profissional na era da inovação
Na sequência, Willian Bucker Moraes abordou “O papel da formação profissional na era da inovação”, reforçando a necessidade de revisão curricular e modernização do ensino nas universidades para acompanhar a velocidade das transformações digitais.

“Vivemos um momento de profunda transformação tecnológica. A automatização deixou de ser uma possibilidade e passou a ser uma necessidade estratégica para garantir eficiência produtiva, sustentabilidade e competitividade”, afirmou o professor.

Willian destacou que o fator humano continua essencial no processo de digitalização, e que a formação acadêmica precisa desenvolver novas competências, como domínio de sistemas digitais integrados, robótica, IA e análise avançada de dados. Ele citou também as dez habilidades mais demandadas até 2030, como inteligência artificial, big data, cibersegurança, criatividade, resiliência e agilidade.

Entre os exemplos práticos de inovação, o professor apresentou o uso de drones na silvicultura, sensores de umidade do solo, estações meteorológicas automatizadas e análises preditivas que transformam dados em conhecimento aplicado. “A automatização é também um fator de sustentabilidade, pois ela reduz impactos ambientais, aumenta a rentabilidade e garante maior segurança nos processos”, destacou.

Para o docente, o maior desafio está em alinhar a velocidade da transformação digital com a capacidade das pessoas. “Precisamos de uma sinergia entre tecnologia e ser humano, com esforço conjunto entre universidades, empresas e governo para formar profissionais prontos para o futuro”, concluiu.

Reportagem: Débora Pereira (Crea-PR)
Edição: Julianna Curado (Confea)
Equipe de Comunicação da 80ª Soea
Fotos: Sto Rei e Impacto/Confea