Augusto Carlos de Vasconcelos

Engenheiro Mecânico Eletricista, em 1946, e Engenheiro Civil, em 1948, pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP); Doutor em Engenharia de Estruturas pela Universidade de Munique, Alemanha, em 1954

Nascimento: Rio de Janeiro (RJ), 26 de outubro de 1922
Falecimento: São Paulo (SP), 25 de dezembro de 2020
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP)

Pioneiro na implantação do sistema de concreto pré-moldado no Brasil, o engenheiro Augusto Carlos de Vasconcelos foi um dos principais responsáveis por introduzir no país os fundamentos científicos do concreto armado e protendido, trazendo da Alemanha um conhecimento que revolucionaria a Engenharia brasileira. Por sete décadas, consolidou uma trajetória marcada por contribuições técnicas e acadêmicas inestimáveis, que moldaram a paisagem urbana, a formação de profissionais e a evolução das normas técnicas do setor. Com dezenas de livros publicados e um escritório de cálculo estrutural onde formou gerações de engenheiros, Vasconcelos — ou simplesmente Vasco, como era carinhosamente chamado — construiu um legado digno de um mestre.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1922, Augusto Carlos era filho de Carlos Carneiro Leão de Vasconcelos, engenheiro, escritor e defensor da criação do estado do Acre. Embora tenha perdido o pai antes dos três meses de vida, herdou dele o amor pela ciência, engenharia e literatura. Formou-se engenheiro mecânico eletricista (1946) e depois engenheiro civil (1948) pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde também iniciou a vocação como professor. Lecionou matemática, física, resistência dos materiais, cálculo diferencial e estabilidade das construções em instituições como PUC-SP, Escola Politécnica e Faculdade de Engenharia Industrial. Ministrou curso no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), onde foi engenheiro auxiliar da Seção de Verificação de Estruturas.

Seu nome se projetou quando, em 1955, obteve bolsa da Fundação Alexander von Humboldt para cursar doutorado na Universidade Técnica de Munique, na Alemanha. No Laboratório de Fotoelasticidade, desenvolveu uma tese inovadora sobre distribuição de tensões em peças de concreto armado — um trabalho reconhecido internacionalmente. Teve aula com Hubert Rüsch sobre concreto protendido, técnica então emergente. De volta ao Brasil, disseminou esse conhecimento em instituições, como USP, Instituto de Pesquisas Rodoviárias e Mackenzie. Pela distinção nos trabalhos ministrados, recebeu a Medalha de Ouro do Instituto de Engenharia de São Paulo por duas vezes.

Entre as iniciativas pioneiras está a criação da Protendit, em 1956 — a primeira fábrica brasileira de estruturas pré-moldadas de concreto protendido de fio aderente. Nos anos seguintes, atuou como consultor técnico e projetista na Cinasa, Projest e Protensa, além de fundar a A.C. Vasconcelos Engenheiros Associados, que manteve, de 1974 a 1982, como verdadeiro celeiro de talentos em cálculo estrutural.

Na lista de obras de destaque das quais foi responsável pelo cálculo estrutural, estão a estrutura em “ferradura” da Avenida 23 de Maio, o Viaduto Antártica e o icônico Sumitomo, com seus 27 andares em formato afunilado apoiados sobre bases robustas na Avenida Paulista (SP). A relação segue com o Estádio Serra Dourada (GO) e as pontes das rodovias dos Imigrantes (SP), do Rio Chopim e do Rio Marrecas (PR). A grandiosidade da cobertura do Centro Cívico do Clube Hebraica, com vigas de concreto protendido de 75 metros, foi um marco da Engenharia nos anos 1960. Como reconhecimento por sua contribuição, em 2021 a cidade de São Paulo batizou com seu nome o Viaduto Prof. Augusto Carlos de Vasconcelos, na Zona Leste.

Paralelamente, foi um escritor produtivo. Inspirado pelo pai, autor de “As terras e propriedades do Acre” e “Impressões da Europa”, Augusto Vasconcelos publicou dezenas de obras técnicas. Seu clássico em quatro volumes “O concreto no Brasil” tornou-se referência na área. Escreveu ainda “Pontes brasileiras: viadutos e passarelas notáveis” e “Máquinas da natureza”. Foi coautor de “A escola do concreto armado” e participou do livro “500 anos de Engenharia no Brasil”.

Foi autor e coautor de centenas de artigos e teve papel ativo em comissões técnicas, inclusive nas normas ABNT NBR 6118 (projeto de estruturas de concreto), NBR 7187 (projeto de pontes de concreto armado e protendido) e NBR 7480 (aço destinado a armaduras para estruturas de concreto armado). Participou da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece) e do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), do qual foi conselheiro individual, diretor, articulista e conferencista. Também representou o Brasil em eventos da International Federation for Pre-stressing (FIP), Euro-International Committee for Concrete (CEB), International Association for Bridge and Structural Engineering (IABSE) e das Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural.

Sua contribuição para a engenharia de concreto lhe rendeu importantes homenagens: Prêmio Emílio Baumgart concedido pelo Ibracon (1984); Engenheiro do Ano, pelo Instituto de Engenharia de São Paulo (1993); Placa de Prata dos 100 anos da Escola de Engenharia Mackenzie (1996); título de Sócio-Honorário do American Concrete Institute (2003); e título Personalidade da Engenharia Estrutural concedido pela Abece (2010).

Conhecido pelo otimismo e pela paixão pela Engenharia Augusto Carlos de Vasconcelos dizia que era preciso amar o que se faz e perseverar. Seu legado vai muito além das obras monumentais que ajudou a erguer: ele foi um mestre generoso e um incansável defensor do rigor técnico e da inovação. Mesmo às vésperas de completar um século de vida — marco que sonhava celebrar — seguia ativo em reuniões técnicas, oferecendo contribuições valiosas com o mesmo entusiasmo de sempre. Assim, o mestre do concreto construiu uma herança tão sólida quanto as estruturas que projetou, e deixou uma inspiração perene que ecoa por muitas gerações.