
Fundação: 1956
Localização: Brasília, DF
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (Crea-DF)
Dom Bosco não poderia imaginar, naquela noite de 1883, quando sonhou com uma terra prometida no interior do Brasil, que sua visão se materializaria nas mãos calejadas de milhares de operários sob o sol do Planalto Central. Juscelino Kubitschek sabia que sonhos precisam de estrutura, de organização, de uma entidade que transformasse visões em concreto armado. Por isso, em 19 de setembro de 1956, quando a maior parte dos brasileiros ainda duvidava que uma capital pudesse brotar do nada, ele criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). Quatro anos antes de Brasília existir, ela já existia.
A Lei nº 2.874, que deu vida à Novacap, tinha apenas algumas páginas, mas por trás daquelas linhas jurídicas estava a audácia de uma geração que acreditava no impossível. Era 1956, e, enquanto os Estados Unidos construíam subúrbios padronizados, o Brasil decidiu construir o futuro.
Nos canteiros de obra que se espalhavam pelo Cerrado, homens vindos de todos os cantos do país não sabiam que estavam construindo o que décadas depois seria reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A Novacap era a orquestradora dessa sinfonia de guindastes, betoneiras e esperanças.
Lúcio Costa desenhou a cidade no papel. Oscar Niemeyer imaginou suas curvas impossíveis. Mas foi a Novacap quem transformou rabiscos em ruas, projetos em palácios. Em tempo recorde, o cerrado virou metrópole.
1960 chegou. Brasília foi inaugurada. O mundo aplaudiu. E então veio a pergunta que ninguém havia feito: e agora? A Novacap tinha uma resposta: não encerrou sua missão – reinventou-a. De construtora da capital, tornou-se guardiã de seu crescimento. Ao longo de 68 anos, suas equipes ergueram o Palácio do Buriti, o Hotel Nacional e o Conjunto Nacional. Construíram os edifícios do Tribunal Superior Eleitoral e do Superior Tribunal Militar. Cada obra, uma camada a mais na identidade da cidade que nasceu pronta e permanece viva.
Hoje, a Novacap é uma empresa pública de capital fechado, com 56,12% de suas ações pertencentes ao Distrito Federal e 43,88% à União – uma parceria que espelha a natureza híbrida de Brasília, nem totalmente federal, nem completamente local, algo único no país. 2024 foi o ano em que a Novacap decidiu se reinventar novamente. A criação da Diretoria das Cidades dividiu o Distrito Federal em seis territórios: Norte, Sul, Leste, Oeste, Centro e Ceilândia/Sol Nascente/Pôr do Sol. Não era apenas reorganização administrativa. Era filosofia aplicada: descentralizar para se aproximar, dividir para multiplicar resultados.
Nas oficinas da empresa, robôs agora fazem a manutenção de sistemas de drenagem que antes exigiam mergulhadores em esgotos. No Centro de Controle de Operações, telas mostram em tempo real cada obra em andamento no Distrito Federal. A tecnologia chegou à Novacap não como modismo, mas como ferramenta de precisão.
Em 2024, foram 40 projetos significativos, entre eles a construção e a restauração de diversos hospitais. Caminhando pelas ruas de Brasília, é impossível não notar: são mais de 6 milhões de árvores plantadas e mantidas pela Novacap em 35 regiões administrativas. Ipês amarelos explodem em agosto, roxos dominam setembro. A cidade que nasceu no Cerrado tornou-se um jardim permanente, onde os pontos turísticos não são lugares, mas as cores de cada mês: e quem cuida de tudo isso é a Novacap.
Paris reconheceu. Em 25 de outubro de 2022, no Concorde La Fayette, próximo ao Arco do Triunfo, a Novacap recebeu o World Quality Commitment, prêmio destinado a empresas da lista Global Fortune 500 que se destacaram pela sustentabilidade empresarial. Entre 118 países avaliados, o trabalho da companhia brasileira foi escolhido. Também conquistou a certificação International Star for Leadership Quality pela construção do estádio Mané Garrincha. No Brasil, alcançou 100% no Índice de Transparência do Distrito Federal.
Prêmios impressionam, mas não definem. O que define a Novacap são os detalhes que poucos notam: o recapeamento da QNL 15 em Taguatinga, investimento de R$1,2 milhão que significa carros que não quebram mais o eixo, pneus que duram mais, motoristas que chegam em casa menos cansados. A reforma da UBS 8 de Ceilândia, onde redes elétricas e hidráulicas foram refeitas para que consultas médicas aconteçam em ambientes dignos. A recuperação do estacionamento da praça de alimentação atrás do Palácio do Buriti, permitindo que pequenos comerciantes trabalhem dentro das normas de segurança.
São gestos aparentemente pequenos que revelam uma compreensão maior: construir cidade não é apenas erguer edifícios monumentais, mas cuidar do cotidiano que torna a vida possível. A drenagem da W2 e W3 Norte, reformada para evitar alagamentos, não ganhará as notícias. Mas salvará móveis, evitará prejuízos, preservará a rotina de milhares de pessoas.
No centro do país, onde Dom Bosco sonhou e Juscelino ousou, a Novacap continua. Não mais com a urgência épica dos anos 1950, mas com a persistência silenciosa de quem compreendeu que grandes cidades não se constroem apenas uma vez. Elas se reconstroem todos os dias, uma obra por vez, um sonho por vez, uma vida por vez.
