Marita Arêas de Souza Tavares

 

Engenheira Eletricista pela Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em 1962

Nascimento: Cachoeira de Minas, 11 de dezembro de 1938 
Falecimento: Belo Horizonte, 4 de setembro de 2024
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG)

As “novas ideias” e a revisão final do livro dedicado aos diplomados no Instituto Eletrotécnico e Mecânico de Itajubá (Iemi), no Instituto Eletrotécnico de Itajubá (IEI), na Escola Federal de Engenharia de Itajubá (Efei) e na Universidade Federal de Itajubá (Unifei), entre 1917 e 2024, demonstram a tenacidade da engenheira eletricista Marita Arêas de Souza Tavares, formada naquela universidade, seis décadas antes. Tenacidade que ela gostava de associar a um espírito rebelde, desde que foi para o Curso Científico, contrariando a lógica feminina da época, mais afeita ao Curso Clássico. E que a levou ao IEI, como a Unifei era conhecida então.

Ela própria ex-presidente da Associação dos Diplomados da Unifei, em 2005-2006, representava uma parte significativa daquela entidade, a exemplo de tantas outras a que se dedicou, ao longo de muitos anos. Ela própria Doutora Honoris Causa daquela universidade, em 2019, e uma das homenageadas do ano com o Diploma do Mérito Maria Luíza Soares, que foi a primeira mulher formada na instituição. E assim, encontramos na relação do ano de 1962, sob o número 37, Marita como a única aluna daquela turma de 57 engenheiros.

Vanguarda e dedicação sempre fizeram parte da conduta desta mineira entusiasmada pela vida e pela profissão a que se devotou. Quarta engenheira eletricista formada na Universidade da Itajubá para onde se mudara ainda na infância, Marita Tavares mostrou para algumas amigas que seu apego às ciências exatas poderia levá-la a percorrer muitas aventuras no universo da Engenharia. “Ela chegou a Itajubá com 10 anos e, na preparação para o vestibular, era a única mulher. E quando passou, também só ela era mulher. As colegas foram pelo caminho do magistério, mas ela nunca se interessou em ensinar. Ela se casou com um colega de turma, Luiz Fernando Tavares. Eles trabalharam juntos na Cosipa”, conta uma das filhas, a engenheira civil Fernanda Tavares Ribeiro de Oliveira.

O início dessa devoção à Engenharia foi marcante, ocupando a função de Chefe da Divisão de Projetos da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Cubatão-SP, de 1963 a 1968. “Meu pai seguiu carreira na empresa durante 15 anos. Mas minha irmã (a médica Flávia de Souza Tavares Barbosa) tinha um problema de saúde, e como morávamos em Santos, ela optou por trabalhar mais próximo da sua residência como autônoma à frente de obras e como fiscal (engenheira certificante) da Delegacia da Receita Federal do Porto de Santos, cargo que ela só conseguiu depois de três tentativas. Nas primeiras, falaram que não era adequado para uma mulher trabalhar no porto. Na terceira vez, por insistência dela, conseguiu”, descreve Fernanda, “com orgulho pelo que ela conseguiu na profissão com sua competência e seriedade no trabalho”.

A filha engenheira conta também que o casal se mudou para Brasília e Belo Horizonte, com Marita precisando assumir outra colocação para acompanhar a trajetória do marido. Entre 1977 e 1982, por exemplo, ela coordenava contratos da Eletronorte e de concessionárias de energia do Distrito Federal e de Goiás.  Em Belo Horizonte, atuou durante 10 anos como superintendente da EPC – Engenharia, Projeto e Consultoria. “Depois de mais de 30 anos de trabalho, ela se aposentou e se dedicou voluntariamente às entidades de classe, ao Crea, à Sociedade Mineira dos Engenheiros (SME), conciliando sempre com a família. Ela sempre nos deu muito apoio, sempre foi muito presente. Além de boa profissional, muito querida pelos engenheiros e profissionais com quem se relacionava, foi boa mãe, esposa, avó”, acrescenta.

O trabalho honorífico a colocava frente a frente com antigos e novos colegas, atualizando-se permanentemente. “Era muito ligada à Engenharia e sempre defendeu as normas e a ética em sua profissão. Na SME, paralelamente à sua atuação na Diretoria, foi coordenadora do Conselho de Defesa Profissional, coordenadora da Comissão de Educação em Engenharia e vice-presidente do Conselho Deliberativo. Coordenou o Prêmio SME de Ciência, Tecnologia e Inovação, que visava incentivar os estudantes de Engenharia no desenvolvimento de trabalhos técnico-científicos. Também se dedicou ao Crea-MG, como conselheira por quatro mandatos, ocupando a coordenadoria da Câmara de Elétrica, a chefia de gabinete, a presidência da comissão de Licitações e chegando a vice-presidente.”

Foi vice-presidente do Fórum de Mulheres do Mercosul no Brasil e, em 2008 coordenou o GT Mulher do Crea-MG. “Sua visão era a da necessidade de incluir a mulher no mercado de trabalho. Ela também contava que sofreu preconceitos, mas nunca se vitimizou. Sempre se encarou como vencedora, driblava os problemas e se saiu bem.  Ela me contou duas situações desagradáveis: uma já mencionada, quando ela foi trabalhar como fiscal no Porto de Santos. A outra, em uma empresa onde ela estagiou, em São Paulo. Quando se mudou para Santos foi informada de que não poderia ser transferida porque naquela unidade não havia banheiro feminino.”

Marita Arêas também teve importante papel na Associação Brasileira de Engenharia Elétrica, braço de Minas, da qual foi fundadora e primeira presidente, de 2007 a 2009, e ainda na Federação Brasileira das Associações de Engenharia (Febrae). “Não tinha dom para ser professora, mas ela elevava a Engenharia. Onde ela pudesse levar um incentivo para os estudantes e engenheiros, ela citava a importância dos avanços tecnológicos”, ressalta Fernanda.

Assim, prossegue a engenheira civil, sua mãe se tornou querida por diversas gerações. “Todo mundo que a conheceu sabe o quanto ela defendia e amava sua profissão. E transmitia seu entusiasmo para todo mundo, esse espírito de integração, de trabalho e sobre o quanto a Engenharia bem praticada é importante”, diz, considerando que, além da aptidão pela área, sua mãe foi uma grande inspiração. “Eu a acompanhava muito nas obras, vendo seus desenhos, plantas e projetos, sem dúvida uma inspiração e um exemplo.”

A dedicação ao trabalho a ocupou “até o último minuto”, como chanceler da entrega de uma medalha a uma colega que se destacou na profissão, escrevendo seu discurso, mesmo internada.

Expansiva, alegre, comunicativa. Importava-se com todo mundo. Assim a filha descreve sua inspiração. “Tinha muita gente nos dois velórios dela, em Belo Horizonte e em Itajubá, onde ela passou a maior parte da sua juventude e onde os pais foram enterrados. O velório foi na Unifei, entre estudantes, professores e reitor. Ela era madrinha de uma equipe de estudantes que construiu um robô, conseguindo patrocínio para participar de sua primeira competição internacional. Os funcionários também tinham uma palavra para falar sobre ela. Cuidava de todos os que estavam em seu entorno. Se alguém tivesse uma dificuldade, ela estava pronta para ajudar.”

Para Fernanda, a homenagem do Sistema Confea/Crea é recebida pela família com muita honra. “É uma grande emoção. Uma pessoa tão junto da família, que a gente não imaginava a dimensão da vida dela para fora. Depois que ela faleceu, foram várias homenagens, culminando com esta do Confea. Sem dúvida, é um grande reconhecimento para quem ela foi e por toda sua dedicação à profissão. Agradeço, com muito orgulho, o prêmio dedicado à minha mãe, na certeza de que ela desempenhou um importante papel, influenciando a vida de tantas pessoas. Que a sua história e seu legado continuem influenciando os estudantes e profissionais do futuro.”