Brasília, 19 de agosto de 2025

Desde jovem, Rochana demonstrava afinidade com números e ciências exatas, embora fosse fascinada por mapas, paisagens e trabalhos de campo. Descobriu a geologia ao ler sobre petróleo, mineração e meio ambiente. Após se formar em Pernambuco e se casar com outro geólogo, mudou-se para Alagoas com a ideia de seguir a vida acadêmica, mas encontrou barreiras pela ausência do curso de geologia na Ufal.
O que parecia um obstáculo se transformou em oportunidade: ingressou nos Laboratórios Integrados de Ciências do Mar, integrando um projeto CIRM/CNPq que marcaria sua trajetória na geologia costeira. Professora titular da Ufal, também assumiu papéis estratégicos fora da universidade — como superintendente de Recursos Hídricos da Semarh-AL, conselheira em unidades de conservação, consultora da Fapeal e colaboradora em publicações de referência sobre Alagoas. Foi ainda conselheira do Crea-AL por duas gestões, consolidando uma carreira marcada pela ciência e pelo serviço público. Veja entrevista:
Como a sra. se encantou pela Geologia?
Foi desde o colégio. Gostava muito de Geografia, mas não de Humanas, gostava muito de Física e Matemática. Lendo sobre a Petrobras, me decidi sobre Geologia. Fiz teste vocacional e deu Geologia, Agronomia e História Natural. Minha mãe queria que eu fizesse medicina, mas eu disse não. Quando entrei na faculdade, os dois primeiros anos eram só básicos. Quando fiz Geologia geral, já no segundo ano, me identifiquei. Cada vez mais fui me entusiasmando.
E com os recursos hídricos?
Aí me formei e meu marido também, em Geologia. Viemos para Alagoas e aqui a Ufal (Universidade Federal de Alagoas) não tinha Geologia, fui trabalhar nos Laboratórios Integrados de Ciências dos Mares.
Entre a sala de aula, a pesquisa, como conselheira, o trabalho de campo... Onde a sra. mais gosta de estar?
Sou muito impaciente, gosto de estar em todos os campos. Passei duas vezes pelo Plenário do Crea. Sempre fizemos parcerias em visitas técnicas, ou em pareceres técnicos, gosto muito de atuar em vários campos porque assim aprendemos demais. Sempre gostei de pesquisa, mas também, penso que quando fui superintendente na Secretaria de Recursos Hídricos de Alagoas - quando cuidava das outorga das águas de superfície e subterrâneas - aprendi mais do que no doutorado.
A senhora foi conselheira por dois mandatos. Pode contar um pouco sobre esse papel? O que aprendeu sobre o Sistema Confea/Crea nesse período?
Foi uma experiência enriquecedora de troca, com avaliação dos processos, viagens das reuniões, intercâmbio dos colegas. Gosto muito dos livros que o Confea publica, tem de mineração, de águas.
Que tipo de atividade no seu dia a dia profissional mais a emociona ou dá satisfação?
Ensino. Quando você vê seus alunos lhe dando o retorno do conhecimento que você passou. Além do dinamismo.
Tem algum projeto ou trabalho do qual a sra. se orgulha especialmente?
Orgulho-me de deixar para Alagoas meus estudos sobre a zona costeira - que é a minha tese de prof titular da Ufal - que reúne todos os estudos que realizei dentro do estado, inclusive as orientações de TCC, mestrado e doutorado - um trabalho que envolve uma pesquisa de 30 anos, e os alunos são participantes. É uma construção coletiva, que devo à universidade e aos alunos.
Rochana, por que é importante estudar a zona costeira?
Porque a zona costeira envolve a linha de costa, antes da linha d'água e 60 km da linha d'água do interior. Todo esse envolvimento é onde você tem as maiores ocupações do Brasil, onde está a maioria das capitais dos estados costeiros do Brasil. Tem também água de rios, recursos hídricos. As populações saíram do interior e ocuparam essas zonas, onde se instalaram universidades. Estudar a zona costeira envolve tudo isso.
Durante sua trajetória, houve alguma dificuldade que quase a fez desistir? Como superou?
No início, sim. Quando me mudei para Alagoas e não tinha faculdade de Geologia. Era década de 1980, a economia do país estava muito difícil, muito desemprego na área, para mulher então. A dificuldade foi muito grande. Estagiei sem bolsa. Mas não pensava em desistir.
Como foi se inserir e se afirmar como mulher em uma área que ainda é majoritariamente masculina?
Muito difícil. Tem que fazer cara de paisagem, porque a gente é o tempo todo avaliada. Capacitação é essencial.
Esta entrevista é só para dar um gostinho da trajetória de Rochana. O perfil profissional completo da geóloga estará disponível no Livro do Mérito, que será distribuido durante 80ª Soea, em outubro!
Beatriz Leal
Equipe de Comunicação do Confea
Foto: acervo pessoal