Especialistas participam de seminário da SBMET em Campina Grande

Brasília, 27 de maio de 2021.


A comemoração do Dia Meteorológico Mundial, em 23 de março, estabelecido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), teve sua programação adiada em decorrência da pandemia de Covid-19. Nestas quinta e sexta-feira (28), a Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET) promove, em Campina Grande (PB), um seminário voltado à discussão de temas como “Clima e Política Ambiental”, de uma mesa-redonda que envolveu alguns pesquisadores no primeiro dia de debates.

Presidente Joel Krüger
Presidente Joel Krüger


Presidente do Confea, patrocinador do evento, o engenheiro civil Joel Krüger abordou a importância da geociência para o desempenho das demais atividades do Sistema. “As condições do clima garantem o correto planejamento de tudo o que nos rodeia. Uma mudança brusca no tempo, por exemplo, pode dizimar a produção de grãos ou provocar enchentes em grandes cidades. Esses exemplos são simples, mas a importância da Meteorologia vai além. O trabalho desses profissionais influencia profundamente a gestão de recursos hídricos, a pecuária, a navegação aérea e marítima. Diversas modalidades da engenharia dependem do trabalho dos meteorologistas”, disse, parabenizando a SBMET e desejando sucesso nos debates e palestras.


Política Nacional de Meteorologia e Climatologia
No período da tarde, mediada pelo meteorologista Gilberto, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Gilberto Barbosa Diniz, foi promovida a mesa-redonda “Clima e Política Ambiental”. Os debates contaram com as participações de José Augusto Pereira Filho, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP); eng. eletric. Hamilton Moss, pró-reitor administrativo da Universidade de Vassouras; e do climatologista Luiz Carlos Molion.

Para José Augusto Pereira Filho, o tema está plenamente em sintonia com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. “Meteorologia compreende o estudo da atmosfera ou do ar, que integra os outros quatro grandes sistemas do nosso planeta: a litosfera, a parte sólida da Terra; a hidrosfera, oceanos lagos e rios do ano; a criosfera e a biosfera. No que se refere à litosfera e à biosfera, nós temos um conjunto de leis muito importantes, estabelecidas desde os anos 1980”, disse, citando exemplos como o Novo Código Florestal, Lei de Crimes Ambientais, Política Nacional de Meio Ambiente, Lei da Fauna, Política Nacional de Recursos Hídricos, Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, Lei das Áreas de Proteção Ambiental, a Política Agrícola e a mais recente, o Marco Legal do Saneamento.

Professor Augusto Pereira


“A Política Nacional do Meio Ambiente se fundamenta na preservação e conservação dos recursos ambientais essencialmente para melhorar a qualidade de vida de todos os seres do planeta. Mas falta aqui o elemento mais importante de todos, que é a Política Nacional de Meteorologia, que até hoje não foi levada adiante, apesar do empenho da Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET) desde 2003 junto ao Congresso Nacional”. "A racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e da atmosfera são aspectos que constam da Política Nacional do Meio Ambiente", diz, "entretanto, a meteorologia e a climatologia não foram encampadas", o que motivou o envio de uma Proposta de Emenda Constitucional apresentada pela entidade.

Os estudos feitos em conjunto entre a SBMET, os Creas e o Congresso levaram a discussões sob qual ministério a atividade deveria ser gerida. “Nós pensamos que seria muito mais adequado que a Meteorologia estivesse sob o guarda-chuva do ministério do Meio Ambiente. Entendemos que o Sistema Nacional de Meteorologia e Climatologia é muito importante e faria parte desta Política Nacional de Meteorologia e reorganizaria o nosso sistema para que o profissional regulamentado por lei pudesse efetivamente trabalhar em todas as atividades humanas que ela permeia. No âmbito das engenharias brasileiras, todas elas têm uma disciplina de Meteorologia e Climatologia para cumprir esse artigo 2º da Política Nacional do Meio Ambiente”, disse.

Em seguida, Augusto Pereira propôs que a “bandeira” da Política de Climatologia e Meteorologia seja levada adiante depois de duas décadas. “São quase duas décadas de espera que permitiram melhorias socioeconômicas no país. Infelizmente, a Meteorologia ainda é vista como uma atividade utilitarista. Os políticos e a mídia não entendem a importância da Meteorologia. Há um esforço global para prover os serviços científicos para o progresso humano e a mitigação de situações extremas como observamos no Sul e no Amazonas hoje, trazidos por dificuldades climáticas. E também em relação ao tempo, onde as grandes cidades enfrentam desconforto térmico e doenças respiratórias e, inclusive, outras associadas à pandemia, disseminada pelo ar. É preciso educar sobre a importância dessa atividade que é muito mais do que um momento dos noticiários. Ela pode fazer muito mais inclusive para o êxito das commodities que tanto valorizam o Produto Interno Brasileiro”, considerou. 

Agrometeorologia
A meteorologista e engenheira agrônoma Lucieta Martorano apresentou os dados dos estudos desenvolvidos por ela desde 1990 em torno de avaliações do Sistema Solo-Planta-Atmosfera de Agrometeorologia.  “Destaco um trabalho desenvolvido com 12 países junto à Embrapa Solos e à Embrapa Amazônia Oriental, identificando os fatores solo, atmosfera, clima, homem, os animais, a floresta e a biodiversidade avaliando as condições meteorológicas em relação ao ser humano e aos processos decorrentes dessas ações antrópicas”, disse.

Meteorologista e engenheira agrônoma Lucieta Martorano


Entre as experiências abordadas pela pesquisadora está a desenvolvida na Floresta Nacional do Tapajós, sobre aspectos como a pegada hídrica. “Como está a pegada desse nosso sistema de produção em relação, por exemplo, ao uso da água e os estoques de água no solo, olhando para o potencial de inserção de espécies nativas da Amazônia ao sistema produtivo”, apontou. 

Ela exemplificou com um sistema de integração lavoura-pecuária-floresta em Paragominas. “A gente desenvolveu uma metodologia para identificar áreas topo-climáticas potenciais para o uso de espécies nativas da Amazônia”, disse, descrevendo aspectos analisados como espécies de soja utilizadas, zoneamentos topo-climáticos, indicadores para a recuperação de processos erosivos, simuladores de chuva, mapas de fragilidade, indicadores de estoque de carbono no solo e, em outras experiências,  o uso da tecnologia de termografia infravermelha, para a produtividade de búfalos, e o reaproveitamento de águas das chuvas, “em consonância com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU”.


Reservatórios e outras fontes de energia
Para Hamilton Moss, cada vez mais, o cidadão comum utiliza a Meteorologia não apenas para saber se vai usar guarda-chuva, mas também para questões relacionadas ao uso de energia fotovoltaica, para saber quanto vai gastar na sua conta de luz no final do mês. “Diante das dificuldades de fazer planejamento hídrico e em termos de reservatórios, que foram tão demonizados pela parte ambiental e que tem que ter cuidado para não termos desastres como Balbina, por exemplo. Mas é preciso conhecer melhor o regime hídrico com todas as incertezas que eles têm”.

Engenheiro eletricista Hamilton Moss e professor Gilberto Diniz

O professor comenta as dificuldades do setor hidrelétrico, cujo nível de geração no país está caindo, de cerca de 90% para 65%, nos últimos 10 anos, em decorrência de diversos fatores. “E a solução está em trabalhar com as incertezas, e uma das questões para garantir a previsibilidade é lidar com barragens. Há 20 anos, falávamos dos reservatórios teóricos equivalentes para dar uma segurança hídrica para a geração de eletricidade com uma previsibilidade de cinco anos. Hoje, falamos no máximo de um ano”. Para ele, a diversificação de fontes de energia, como o uso das energias eólica, solar, da biomassa e outras, pode contribuir para manter os níveis dos reservatórios “que precisam ser desestigmatizados”. 

A relação entre energia e meteorologia também envolve a análise da diversidade de aspectos topográficos do país. “A eficiência energética é outro exemplo dessa relação entre a energia a meteorologia. Uma casa construída do Nordeste tem posicionamento e arquitetura diferentes de uma casa no Rio Grande do Sul, por exemplo. A Amazônia é mais complexa ainda em relação à dificuldade do uso de energia eólica, por exemplo. O problema da distribuição também é bastante complexo. Então, um país de dimensão continental com vários ‘climas’ é uma situação extremamente complexa, e esse diálogo entre meteorologia e energia é extremamente importante. Todas as grandes fontes renováveis dependem de regimes climáticos”.

Climatologista Luiz Molion, ao centro

Soberania
“O aquecimento global não existe”, apontou o climatologista Luiz Carlos Molion, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), repetindo uma máxima que ele defende há décadas. “Há uma grande pressão internacional. Uma interferência na nossa soberania, baseado em uma falsa ciência. O gás carbônico tem uma participação muito ínfima no aquecimento global”, disse, lamentando a fala do presidente francês, Eugène Macron, que se declarou contra a participação de países que não assinassem o Acordo do Clima de Paris no acordo de comércio entre Mercosul e União Europeia. 

“Já vi essa discussão antes sobre a destruição camada de ozônio, utilizando argumentos que não têm nada a ver. A camada de ozônio depende da atividade solar. Quando o sol está no mínimo de atividade, produz menos raios ultravioletas e a camada diminui. No entanto, por meio do Protocolo de Montreal, em 1987, nos obrigaram a substituir o uso de CFCs. Ficou muito claro que isso era uma fraude. Essas pressões atingem a nossa soberania”, disse, considerando a necessidade de resistir a essas pressões econômicas, de maneira mais coerente do que aquela demonstrada pelo ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. “Depois de considerar o discurso do aquecimento global marxista-leninista, ele admitiu apoiar a política ambiental norte-americana, após a oferta de um fundo de 20 bilhões de dólares”, considerou.

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea