
Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da Universidade Católica de Pernambuco, em 1960; Especialista em Recursos Hídricos pela Escola Nacional de Engenharia do Rio de Janeiro e pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), também do Rio de Janeiro, em 1965; Especialista em Dessalinização da Água do Mar e Irrigação em Áreas Desérticas, na Espanha, em 1979
Nascimento: Sobral (CE), 6 de setembro de 1933
Falecimento: Fortaleza (CE), 20 de julho de 2023
Indicação: Instituto Brasileiro de Auditoria e Engenharia - Seção Ceará (Ibraeng-CE) e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE)
No ano em que nascia o Sistema Confea/Crea e Mútua, em 1933, nascia também, no interior do Ceará, Manfredo Cássio de Aguiar Borges, engenheiro civil especialista em recursos hídricos precursor da ideia de transposição do Rio São Francisco, que transformaria algumas regiões do semiárido em verdadeiros oásis, convertendo a vida de ribeirinhos e outras populações com mais alimentos e possibilidades de futuro. Manfredo deixou a vida em 2023, mas eternizou sua experiência em diversos livros e artigos, por meio dos quais compartilhou seus conhecimentos e bagagens.
Criado em Sobral, Manfredo, mais conhecido como Cássio Borges, formou-se no Recife, na Escola Politécnica de Pernambuco, em 1960, e, a partir daí, dedicou a vida ao desenvolvimento hídrico e social do Nordeste brasileiro. Passou no concurso do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), assumiu posto na capital cearense e lá trabalhou a vida inteira. Chegou a ser bem-sucedido na prova da Petrobras também, pediu licença do Dnocs, assumiu a nova vaga na Bahia, mas viu que seu lugar não era com petróleo, e sim com as águas. Retornou. “Não tem jeito. Depois da família, as paixões de meu pai eram o Fortaleza (time) e o Dnocs”, conta o filho de Cássio, Marcos.
Na instituição, ocupou diversos cargos de liderança e tocou projetos como o de Paraipaba, do qual, particularmente, se orgulhava. “Ele transformou a vida dos colonos que ali habitavam. As pessoas o tratavam quase como uma santidade. Porque eles não tinham nada, era uma população de extrema pobreza, e a partir de um projeto de irrigação eles passaram a poder plantar, ter galinha, criar gado e até possuir carro próprio. Foi muito transformador. Ele tinha uma visão social à frente do tempo”, compartilha Marcos. Ele costumava visitar os locais das obras que projetava para ver os impactos sociais dos projetos, entrava nas barragens, dentro da água, ia aos locais inóspitos. “Ele sempre disse: ‘eu jamais vou ser um engenheiro de escritório’”.
No fim da década de 1970, Cássio fez uma especialização na Espanha sobre dessalinização, assunto sobre o qual ficou encantado, sem deixar de reconhecer que era inviável financeiramente para o Brasil. Voltou remoendo ideias acerca de soluções mais baratas para o semiárido, entre elas a transposição do Rio São Francisco. “Ele foi um dos precursores, um dos primeiros a defender a ideia, encontrou muita resistência da Bahia, de Sergipe, de Alagoas…”, aponta Marcos. Cássio defendia que, com a transposição, aliada a outras ações de cada estado, seria possível resolver o problema da seca no semiárido.
Marcos conta que o pai nunca teve dificuldade de se posicionar politicamente nos momentos delicados das obras. Uma dessas situações foi detalhada no livro “A face oculta da barragem do Castanhão”, em que, além de defender a democratização da água, conta sobre as dificuldades políticas de conduzir um empreendimento. “Ele era muito firme nas convicções dele. Quando tinha certeza, ele era determinado, ia a fundo”, registra Marcos. Outro livro publicado por Cássio Borges é “O nó górdio da transposição”, em que divide sua visão sobre parte da contratação da obra da transposição do Rio São Francisco.
Pai de um casal de filhos, a paixão pela família, pelo Dnocs e pelo futebol não ficou limitada à história contada até aqui: em 1979, Cássio Borges presidiu o Fortaleza Esporte Clube, mandato em que criou a campanha “Dois mil sócios”, precursora da atual “sócio-torcedor”. “Ele achava que o clube não podia sobreviver só de bilheteria. Acreditava que deveria ter algo com que os torcedores pudessem contribuir, gerando algum tipo de contrapartida. Ele gostava muito de fazer esse benchmarking, de ver o que estava acontecendo fora, tanto na Engenharia quanto no Clube”. Sem dúvida, um engenheiro de visão.
