
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), em 1984; Mestre em Soil Science pela Universidade de Aberdeen, Escócia, em 1995; Doutor em Agronomia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), com Bolsa sanduíche na Kansas State University (USA), 2004 e na Université de Paris e no INRA – Institut National de la Recherche Agronomique, Paris, em 2005
Nascimento: Iretama (PR), 16 de março de 1957
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)
A convivência e a experiência com mestres de diferentes nacionalidades muito cedo se mesclaram com a tradição da agricultura familiar de origem italiana, e o jovem paranaense Ademir Calegari aos poucos sedimentou uma trajetória hoje reconhecida em todo o mundo. No coração da sua conversa amistosa, convivem as muitas referências que intermediaram a disciplina e o interesse em aperfeiçoar-se constantemente, a ponto de torná-lo também uma autoridade da agricultura regenerativa, não apenas do país.
Consultor da FAO, do Banco Mundial, da União Europeia e das Cooperações Alemã e Austríaca, entre outros organismos, mesmo após sua aposentadoria no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em 2012, Calegari segue revolvendo, na mente e na terra, em mais de 50 países, centenas de espécies de plantas. Com elas, segue apostando na agricultura sustentável por microrganismos, sobretudo por meio do sistema de plantio direto (SPD), com o acréscimo de seus blends de plantas de cobertura, como tecnologias ou ferramentas fundamentais para manter o solo coberto e protegido, em condição ideal para ampliar a produtividade do campo.
Sustentabilidade que não vem a ser uma agricultura propriamente orgânica, ressalva. Mas que caminha nessa direção. “Plantas no meio do café, do milho, fazem maravilhas, desde que o solo esteja equilibrado. Então, após o diagnóstico de qualidade, conforme as situações de cada talhão, é feita a adequada escolha da combinação de espécies, de acordo com as necessidades do solo. Tenho um know-how de 49 anos, lidando com mais de 170 espécies e variedades, em diferentes cenários. Conseguimos reduzir insumos externos, o excesso de fertilizantes, pesticidas, um ajuste de diversos componentes, ou ajustes tecnológicos que favorecem o desenvolvimento de um solo vivo, reconhecido e consolidado por especialistas de diversos países. Não é orgânico, mas é o mais natural possível. Solo saudável, plantas saudáveis e alimentos saudáveis igual a pessoas saudáveis”, comenta.
Ademir considera o diagnóstico a principal chave para o êxito das suas demais atividades. “Hoje todo mundo está fazendo mistura de plantas, como uma biofloresta. Mas tudo depende do diagnóstico, a chave do sucesso é identificar as limitações do sistema produtivo: os desafios, as deficiências, a compactação do solo, ocorrência de fitonematoides, pragas, enfim, necessidades da busca do equilíbrio entre os atributos químicos, físicos e biológicos. Depende também dos intervalos entre cultivos, das janelas disponíveis, condições climáticas, irrigação ou sequeiro etc. Plantas consorciadas ao cafeeiro, ao milho, girassol, sorgo, frutíferas, fazem maravilhas, desde que o solo seja harmoniosamente equilibrado. Então, se busca uma combinação de plantas, de acordo com o que o solo está pedindo. Ou seja, buscando a memória deste solo, desta área específica, buscando aumentar a microbiota do solo e o reequilíbrio.”
Foram 23 livros, 39 capítulos internacionais e mais de 140 artigos científicos nacionais e internacionais, além de muita prática ao redor do mundo – em temas que abrangem ainda conservação do solo, pastagens/forrageiras, manejo de cafeeiro, cana-de-açúcar, frutíferas em geral e outros afins. Livros, como: “Adubação do Milho” (1989, com Osmar Muzilli e Edson Oliveira); “Plantas para adubação verde de inverno” (1992, com Rolf Derpsch) e “Abonos Verdes” (1999, com Marcos Peñalva). E prática, iniciada e sempre reverenciada, na área de solos do pioneiro Iapar, entre 1984 e 2012. A “aposentadoria” oficial o consolidou entre as consultorias, os cursos e as palestras, percorrendo o mundo para falar de agricultura regenerativa, biodiversidade, rotação de culturas, SPD (plantas de cobertura), manejo de solos em diversos sistemas de produção.
Toda essa experiência começou ainda antes da sua formação, desde que trabalhou na Cooperativa Agrícola de Cotia-SP, em 1976, quando pôde conhecer o detalhismo e a disciplina das colônias japonesas. Hoje, o pesquisador descreve seu trabalho como uma contribuição para a seleção massal. “Não sou geneticista ou melhorista. Mas vamos contribuindo, fazendo a seleção massal em feijão, milho, culturas de cobertura. Avaliando, estudando as variações das plantas. Claro que isso depende do interesse do produtor e que cada cultura exige um tratamento diferente.” Em 1998, Calegari começa com o mix de coberturas, sendo pioneiro nesses estudos no Brasil. “No ano de 2003, levei para os Estados Unidos essa visão do mix de plantas, a mistura de plantas de serviço, com Gabe Brown, Ray Archuleta, Jay Führer. Isso foi uma revolução.”
Assim, é mantida em desenvolvimento toda uma pesquisa, uma investigação, desde que se tornou discípulo do chileno-alemão Rolf Derpsch, no Iapar, “a maior autoridade em planta de cobertura e adubos verdes de todo o mundo, com inúmeras condecorações”, cuja influência o levou à sua dissertação de mestrado. Ademir cita o experimento conduzido na Estação Experimental do Iapar de Pato Branco (PR), ao lado de seu “guru” e mantido há 39 anos, que já deu origem a 12 teses e a inúmeros artigos científicos, contendo plantas de serviço como aveia, centeio, nabo, ervilhaca e outros mixes de espécies.
“São todas plantas que melhoram o solo, mas há 26 anos, eu melhorei, criando o blend, que foi o pulo do gato mundial e que se intensificou nos últimos 12 anos. Hoje, a melhor planta para uma determinada região é um mix com no mínimo quatro famílias”, diz, contando que a tecnologia já foi adaptada nos Estados Unidos a plantas como trevo e tremoço, resultando em comendas e outros reconhecimentos, inclusive de pesquisadores como Ray Archuleta e do “produtor mais famoso dos Estados Unidos”, Gabe Brown, “pais da agricultura regenerativa naquele país e no mundo”.
A utilização do mix de plantas de cobertura também corrobora sua preocupação em corrigir nutrientes como enxofre, potássio, boro e nitrato, que são lixiviados no perfil do solo, sem agredir ainda mais a natureza. “O uso de ativos biológicos está em todo o mundo, até porque eles fazem parte da própria natureza, sendo mais fácil produzir fungicidas e inseticidas biológicos. Assim, o manejo regenerativo busca um retorno na busca da própria memória do solo. Tudo isso está ali no solo. O uso de espécies melhoradas é uma prática ancestral na agricultura. O fascinante é você observar a fertilidade íntegra do solo (aspectos biológicos, físicos e químicos) com um mínimo de aplicação de nutrientes externos, usando bioinsumos. O mundo inteiro usa isso em diferentes sistemas, quer seja em produção de grãos ou pastagens para reequilibrar o solo. Assim, vamos avançar para interagir com diferentes países”, diz o disciplinado senhor que dedica 12 a 13 horas por dia ao seu ofício.
De plantações de café em Minas Gerais, no município de Guaxupé, onde geadas do primeiro semestre ameaçavam a produção, ao enfrentamento de outros aspectos do aquecimento global, novos desafios são colocados aos produtores e aos pesquisadores. Assim, Ademir Calegari ocupa seus dias, não dedicados apenas aos cursos e palestras. “A alta temperatura tende a um café de menor qualidade. É preocupante, mas precisamos oferecer um solo mais resiliente que suporte mais as condições climáticas, temperaturas elevadas ou excesso de chuva. O produtor tem que estar cada vez mais buscando tornar o solo mais resiliente. Começando com uma boa cobertura, raízes diferentes, microrganismos. Aquilo que em inglês chamam de Green Bridge, ‘Ponte Verde’. Raízes vivas o ano todo, alternando cultivos anuais ou perenes, mantendo sempre raízes vivas no perfil do solo e as populações de organismos ativos durante todo o ano, independente da cultura implantada. Com esse dinâmico aumento de biodiversidade, estaremos regenerando e criando maior biodiversidade e equilíbrio, um solo mais vivo, com maior produtividade, em harmonia com a Mãe Natureza”.
