Amilcar Adamy

Geólogo formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1971; Especialista em Fotogeologia pelo Centro Interamericano de Fotointerpretacion (CIAF), na Colômbia, em 1979; Especialista em Terrenos Sedimentares pelo Centro Integrado de Estudos Geológicos (CIEG) da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), em 1991; Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Rondônia (Unir), em 2006

Nascimento: Ibirubá (RS), 26 de dezembro de 1948
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Rondônia (Crea-RO)

Com mais de cinco décadas de atuação dedicada ao desenvolvimento geológico da Amazônia, o Sistema Confea/Crea presta uma justa homenagem ao geólogo Amilcar Adamy, que construiu um legado técnico e humano marcado por escolhas corajosas e compromisso público com o território brasileiro.

Sua trajetória teve início nos anos 1960, em Ibirubá (RS), e ganhou rumo em Passo Fundo (RS), onde conheceu a profissão de geólogo por influência da professora Alice Fleck. Inspirado também por Elimar Trein, geólogo conterrâneo e amigo da família, decidiu seguir na área, impulsionado pela curiosidade e pelo exemplo desses mestres.

Em 1968, ingressou no curso de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), após também ser aprovado para Engenharia de Minas. A decisão entre as duas carreiras não foi difícil: a Geologia já havia conquistado seu espírito. Formou-se em 1971, no auge do regime militar, com a certeza de que queria devolver à sociedade, especialmente aos pais, todo o esforço feito para viabilizar sua formação.

Logo após a formatura, surgiu a oportunidade que mudaria para sempre sua trajetória: a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), criada naquele mesmo ano, recrutava jovens geólogos para atuar no Norte do Brasil, dentro da política governamental de integração da Amazônia. Ao aceitar o desafio de trabalhar em Rondônia, Adamy imaginava que, após quatro ou cinco anos, retornaria ao Sul. Mas o que encontrou na Amazônia foi mais do que um campo de trabalho, foi a descoberta de um propósito de vida. “Compreendi, afinal, que minha vida profissional estaria sempre atrelada à Amazônia”, relembra.

Desde então, foram dezenas de projetos fundamentais para o conhecimento geológico da região. Entre os primeiros, destaca o Projeto Noroeste de Rondônia (1972-1975), seguido pelo estudo da Província Estanífera de Rondônia (1976-1978), e o Projeto Porto Velho-Abunã (1990), todos sob a coordenação da CPRM. Em Manaus, liderou o mapeamento da Carta Metalogenética de Porto Velho (1984) e, no Pará, integrou o Projeto de Prospecção para Ouro na Província Aurífera do Tapajós (1985). Também atuou em levantamentos sobre garimpos da bacia do rio Madeira (1989-1992), a serviço do Ministério de Minas e Energia.

Além das pesquisas minerais, Amilcar Adamy se destacou em projetos de gestão territorial e zoneamento ecológico. Foi um dos responsáveis por estudos locacionais de resíduos sólidos em dezenas de municípios da Amazônia e pela entrega, à Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e à Organização dos Estados Americanos (OEA), do Zoneamento Ecológico Brasil–Bolívia, no eixo Rio Abunã ao Vale do Guaporé, com participação binacional e equipe multidisciplinar.

A partir da década de 2010, encontrou no tema da geodiversidade a síntese de sua experiência e vocação. Coordenou os levantamentos nos estados de Rondônia (2010) e Acre (2015) e liderou projetos em cinco municípios rondonienses (2018-2021). A proposta do programa, iniciado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB, antiga CPRM), é oferecer uma leitura técnico-científica do meio físico, subsidiando políticas públicas e o uso sustentável do território. “A geodiversidade representa uma ponte entre o saber acadêmico e a gestão do território. Ela transforma o conhecimento em ferramenta de planejamento”, resume.

Uma das descobertas mais emblemáticas de sua carreira aconteceu durante os trabalhos de campo de geodiversidade em 2010: uma caverna diferenciada em Vista Alegre do Abunã revelou-se a maior paleotoca da Amazônia escavada por preguiças gigantes há mais de 10 mil anos. A identificação foi confirmada com apoio do professor H. Frank (UFRGS) e ganhou repercussão nacional e internacional, levando à localização de outras dez paleotocas na região.

No campo institucional, Adamy também se destacou. Foi presidente do Centro Acadêmico de Geologia da UFRGS (1971), fundador da primeira entidade de classe de Rondônia, a Associação dos Geólogos, Engenheiros e Agrônomos de Rondônia (Agea), e presidente da Associação Profissional dos Geólogos do Estado de Rondônia (Aprogero) (1997-2001). Atuou como conselheiro do Crea-RO em três mandatos intercalados (1987-1992, 2004-2009 e 2017-2022), foi vice-presidente do conselho duas vezes e coordenador da câmara especializada de sua área.

Sua trajetória já recebeu inúmeras distinções: título de Cidadão Honorário de Rondônia (2021), Cidadão Portovelhense (2024), Comenda Madeira-Mamoré (2025), além de homenagens da CPRM, da Unir e de entidades de classe.

Para Adamy, o reconhecimento pelo Sistema Confea/Crea representa mais do que uma honraria: “É um prêmio de grande valor, que recompensa o empenho e a dedicação, e que espero possa inspirar novas gerações de profissionais — especialmente os geólogos da Amazônia, que hoje contam com um acervo construído a muitas mãos, mas que me orgulho de ter ajudado a erguer desde os primeiros alicerces”.