Ricardo César Aoki Hirata

Geólogo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 1984; Mestre e Doutor em Geociências pela Universidade de São Paulo (USP), em 1990 e 1996 respectivamente; Pós-Doutor em Geociências pela University of Waterloo, Canadá, em 1995

Nascimento: São Paulo (SP), 18 de dezembro de 1960
Indicação: Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas)

Ricardo Hirata construiu sua trajetória entre a ciência e o compromisso social. Geólogo com mais de quatro décadas de atuação, é hoje um dos principais nomes da hidrogeologia na América Latina, com contribuições reconhecidas internacionalmente tanto no campo da pesquisa quanto na formulação de políticas públicas.

Seu interesse pela Geologia surgiu no final do ensino médio, impulsionado pela busca de uma profissão que unisse natureza, ciência e descobertas. Foi apenas no final da graduação, porém, que encontrou a verdadeira vocação: a hidrogeologia. O ponto de virada veio durante um estágio no Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) — hoje SP Águas — em São Paulo. Lá, compreendeu que o trabalho do geólogo poderia ir além do conhecimento técnico: ele poderia impactar diretamente a vida das pessoas. E foi pela água subterrânea que esse impacto se revelou imenso.

Ao longo dos anos, Hirata se consolidou como um dos grandes nomes da área. Trabalha com desenvolvimento de tecnologia, pesquisa aplicada e formação de pessoas — sempre em defesa da sustentabilidade do planeta e responsabilidade pública, como faz questão de ressaltar: “A água subterrânea abastece 60% da população mundial e regula o ciclo hidrológico que sustenta a vida como a conhecemos”.

Sua jornada foi acompanhada por figuras que o influenciaram técnica e humanamente. Rosa Beatriz Gouveia da Silva, sua chefe no DAEE, foi uma das primeiras a mostrar como ciência e ação concreta podem caminhar juntas. Gerôncio Rocha, também do DAEE, reforçou a importância da aplicação do conhecimento técnico às políticas públicas — e o papel vital do Estado em um tempo em que o serviço público é tão desvalorizado.

Mas a referência mais marcante veio da atuação internacional: Stephen Foster, com quem trabalhou na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), no Banco Mundial e, posteriormente, na International Water Association. Foster não apenas abriu as portas da atuação global, como também lhe ensinou sobre planejamento estratégico, governança da água e políticas públicas. Junto com o professor Emilio Custodio — outro gigante da área —, Foster é, para Hirata, um dos hidrogeólogos mais influentes da América Latina.

Outro nome fundamental em sua formação foi Robert Cleary, seu orientador de mestrado, que o indicou para o pós-doutorado na Universidade de Waterloo, no Canadá — à época, o maior centro mundial de pesquisa em águas subterrâneas.

Ricardo Hirata participou de projetos em mais de 30 países, em cinco continentes, inclusive como consultor para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a International Atomic Energy Agency (IAEA). Dentre os frutos mais expressivos, destacam-se os métodos de avaliação de vulnerabilidade e risco de contaminação de aquíferos — GOD e POSH —, hoje adotados em políticas públicas de diversos países. Seus manuais de referência, desenvolvidos para a Organização Mundial da Saúde e para o Banco Mundial, somam mais de 5 mil citações em bases acadêmicas.

Por mais de uma década, integrou o Groundwater Management Advisory Team (GWMATe) do Banco Mundial, equipe que atuava em soluções de gestão da água e da qualidade hídrica na América, Europa, África, Ásia e Oceania. Dessa experiência, nasceram publicações técnicas de referência e a contribuição direta para a criação de políticas públicas em diversas nações.

Outro ponto alto da carreira é o trabalho como educador, especialmente na USP, onde é professor titular desde 2016. Já orientou mais de cem estudantes em iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, além de lecionar para milhares de alunos em cursos de graduação, pós-graduação e capacitações profissionais. Para ele, formar pessoas é uma das realizações mais valiosas.

Na fase mais madura da trajetória, Ricardo Hirata concebeu e liderou o Sacre — Soluções de Água para Cidades Resilientes, o maior projeto de pesquisa aplicada de sua vida. A iniciativa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), reúne universidades e instituições governamentais nacionais e internacionais em um esforço para reduzir a vulnerabilidade de cidades e zonas rurais às crises hídricas causadas pelas mudanças climáticas.

O Sacre está estruturado em quatro pilares: geração de ciência e tecnologia original, formulação de políticas públicas baseadas em evidência, formação de recursos humanos de excelência e comunicação social. Para Hirata, o projeto representa a síntese de tudo o que construiu: uma oportunidade de aplicar, em larga escala, ideias que desenvolveu e aprimorou ao longo dos anos, e ainda fazer isso ao lado de parceiros que o têm acompanhado ao longo das décadas e compartilham a mesma visão.

Ao ser indicado pela Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas), entidade da qual foi vice-presidente entre 2016 e 2024, e agraciado com a maior premiação do Sistema Confea/Crea e Mútua, Ricardo Hirata sente-se profundamente honrado — não apenas por si, mas pela causa que representa. Segundo ele, essa homenagem dá visibilidade a um setor ainda invisível para parte da sociedade: o das águas subterrâneas. É, em suas palavras, como se o principal sistema profissional do país dissesse com todas as letras: “A água subterrânea merece ser premiada”.