Edilton Carneiro Feitosa

Geólogo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1964; Especialista em Geofísica Aplicada à Hidrogeologia pela Bacia Escola de Hidrogeologia da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1966; Mestre em Geofísica para Hidrogeologia pela “Université Louis Pasteur”, França, em 1967

Nascimento: Recife (PE), 17 de outubro de 1939
Falecimento: Recife (PE), 28 de junho de 2021
Indicação: Câmara Especializada de Geologia e Engenharia de Minas (CEGEM) do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE)

Considerado um dos pioneiros da Geologia brasileira, Edilton Carneiro Feitosa iniciou sua trajetória profissional ao deixar a Escola de Cadetes do Ar da Força Aérea Brasileira (FAB), motivado pela busca por novos desafios. Naquela época, o Brasil dava seus primeiros passos na formação de geólogos, impulsionado pela Campanha de Formação de Geólogos (CAGE), criada em 1957 pelo então presidente Juscelino Kubitschek. A iniciativa visava fortalecer o conhecimento geológico como base para a descoberta e exploração de recursos minerais essenciais ao desenvolvimento nacional.

O nome de Edilton se destaca entre os protagonistas desse movimento. Uma publicação da Petrobras, lançada em comemoração aos 50 anos do curso de Geologia em Pernambuco, relembra a valorização dos professores na década de 1970 — um período fundamental para a consolidação de um corpo técnico de excelência na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Entre os nomes de referência, figura Edilton, reconhecido não apenas como professor, mas também como um conciliador e formador de equipes.

Foi ele o responsável por liderar a implantação do primeiro curso de Mestrado em Hidrogeologia do Brasil, sediado na UFPE. Sob sua coordenação, o programa tornou-se um polo de referência, atraindo estudantes de todo o Norte e Nordeste interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre os recursos hídricos subterrâneos.

Como hidrogeólogo, teve papel fundamental na definição de mananciais para captação de água subterrânea em diversos estados do Nordeste, atuando junto a órgãos públicos e empresas privadas. Seu trabalho concentrou-se em pesquisas voltadas ao abastecimento público, à irrigação e ao uso industrial da água.

Na pesquisa científica, Edilton contribuiu significativamente para o conhecimento de bacias sedimentares e zonas cársticas por meio da aplicação do método de eletrorresistividade. Seu trabalho mais inovador nesse campo foi o desenvolvimento do Índice Elétrico de Carstificação (IEC), ferramenta pioneira que possibilita a identificação precisa de áreas favoráveis à captação de água subterrânea em rochas calcárias.

Participou e coordenou estudos fundamentais sobre importantes aquíferos brasileiros, como o Aquífero Cabeças (PI), o Sistema Aquífero Amazonas — que inclui o Alter do Chão, considerado o maior do mundo — e os aquíferos cársticos da Bacia do São Francisco.

Com sólido conhecimento em matemática e estatística, o geólogo também desenvolveu ferramentas computacionais inéditas, voltadas à superação de desafios técnicos em suas pesquisas. Seu instrumento de trabalho mais constante, porém, continuou sendo o método elétrico de eletrorresistividade, que dominava com maestria desde os anos 1960. Aplicou essa técnica com criatividade em diversos campos, como hidrogeologia, geotecnia, saneamento, prospecção mineral e arqueologia.

A viúva Helena Porto, que também foi aluna de Edilton, relembra as características que mais marcavam a personalidade do geólogo: “Um otimista e entusiasta da profissão, sempre encantado com os trabalhos de campo, tanto que os colegas mais próximos o apelidaram de ‘Jaga’, numa alusão carinhosa ao jagunço, figura ligada ao sertão e à intimidade com a natureza. Além disso, ele era discreto no modo de trabalhar, nunca buscava reconhecimento, mas tinha um comprometimento profundo com tudo o que fazia.”

Ao revisitar sua trajetória, é possível identificar quatro grandes frentes de atuação: a hidrogeologia aplicada, a pesquisa científica, o ensino e o desenvolvimento tecnológico. Porém, Edilton Carneiro Feitosa ia além dos laboratórios e da ciência. Havia nele também um poeta — uma faceta mais íntima e pouco conhecida. Sonhava em ver seus versos publicados, muitos deles relacionados à hidrogeologia.

É com esse gesto de reconhecimento que o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), além de homenagear o profissional que tanto contribuiu para o avanço da Engenharia e das Geociências no Brasil, especialmente na pesquisa de águas subterrâneas para abastecimento público, presta também uma reverência ao artista por trás do cientista, publicando um de seus poemas.

Deus Trovão foi soberano
Casado com Tempestade
Dia a dia, ano a ano
Onde seria a cidade
E derramaram dilúvios
E difundiram umidade
Nos rios gerando deflúvios
Nas matas, fecundidade.
Deus Trovão é soberano
Ainda com Tempestade
Dia a dia, ano a ano
Onde hoje é a cidade
E derramam temporais
Em rios que não os cabem,
Em becos e quintais
Que foram um dia vargem
Deus Trovão ruge turrão
Com a sua Tempestade,
Reclamando seu torrão
Tomado pela cidade!

Edilton Feitosa - abril de 2021