Primeira engenheira civil do ES receberá homenagem do Confea

Brasília, 6 de agosto de 2025

Emilia Frasson Manhães

Neta de inventor e filha de carpinteiro, a Emilia Frasson Manhães não se imaginava seguindo a carreira do magistério. Após concluir o ensino fundamental, ocupou-se de diversas atividades – entre elas, a confeitaria. Seu primeiro projeto foi um bolo em forma de catedral. “Você gosta de criar, estude Engenharia”, foi o conselho de um primo. Veja a entrevista com a primeira engenheira civil do estado do Espírito Santo.


Como foi o primeiro dia de aula na faculdade? A senhora se lembra das reações dos colegas ou professores?

"Os meninos me olhavam como se eu fosse um ET. Eu era a única menina. De repente chegaram mais duas. Mas depois uma desistiu e a outra perdeu o ano. Os colegas eram muito gentis. Minha mãe mandou fazer calças para mim porque na aula de Topografia a gente tinha que subir morros e não era bom ir de saia. Mas eu tinha um professor de outra disciplina que falava "mulher na minha aula não usa calça", aí eu tinha que levar vestido e me trocar.


Chegou a pensar em desistir do curso por causa desse tipo de coisa?

Nunca! Cada vez eu queria mais. Nunca faltei a uma aula. Eu tinha fascinação. A alternativa para mulher era o magistério e eu não tinha vontade de ser professora.
Eu não pensava muito, só ia seguindo.


A senhora se envolveu no cálculo estrutural de mais de 50 prédios em Vitória e coordenou a construção do campus da Ufes. Como era ser a única mulher entre engenheiros e operários naquela época?

O mestre de obra não respeitava, achava que sabia mais do que nós. Mas os operários gostavam de mim, sempre me consultavam. Nesses projetos aprendi que a perfeição cria bons trabalhos, que fazer com cuidado é mais importante do que fazer correndo.


Que tipo de atividade no seu dia a dia profissional mais a emocionava ou dava satisfação?

O dia da concretagem era meu ápice. Antes de eles concretarem, eu conferia a ferragem toda, era meu prazer. O dia seguinte à entrega do projeto também era muito bom.


A senhora trabalhou até os 86 anos. Qual foi o último projeto que a senhora entregou?

Foi um prédio de 22 andares, com piscina no topo.


A senhora sente falta de trabalhar?

Sinto, mas não gosto mais de trabalhar. Ficar se atualizando o tempo todo cansa. Sinto falta da concretagem da primeira laje. Sinto falta de ver a fundação.


Saiba mais sobre a história da engenheira civil Emília Frasson Manhães com a leitura do Livro do Mérito, a ser distribuído durante a 80ª Soea, que será realizada de 6 a 9 de outubro, em Vitória, ES.

 

Beatriz Leal
Equipe de Comunicação do Confea