Brasília, 13 de março de 2015
Filha de médico, Maria Eugênia de Moraes Barbosa, a engenheira civil mais velha com registro profissional no Sistema Confea/Crea, seria farmacêutica não fosse a influência de um professor. Ao diplomar a formanda do que hoje seria o 2º grau, perguntou à aluna que profissão iria seguir. Ela respondeu “farmácia”. Por que, ele quis saber. “Por decisão de meu pai”.
Foi quando o professor chamou o pai da menina para questionar: “Por que farmácia, se ela é ótima com números?”. “Porque eu não sabia dessa aptidão”, respondeu o pai, que a liberou para entrar na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, onde se formou em 1946.
Nascida em Bom Conselho, no interior pernambucano, em 1924, Maria Eugênia obteve registro profissional em 1949, número 737, no Crea-PE, e em 1950, foi a primeira mulher a se sindicalizar no Senge-PE (Sindicato dos Engenheiros de Pernambuco).
Antes mesmo de se formar, foi trabalhar no DER-PE (Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco), quando o órgão tinha outro nome “não me lembro como era”, até completar 70 anos. Depois de formada, foi dar aulas, por 20 anos, na mesma escola e faculdade onde se formou. Disciplina: Cálculo infinitesimal.
Única mulher na turma de 18 alunos, Maria Eugênia casou-se, “mas sou viúva há muito tempo” e não teve filhos. Considera o professor Nilton Maia, o que percebeu suas habilidades, como “seu pai espiritual”.
Ela não quis se manifestar sobre se era ou não vantajoso ser a única mulher num universo absolutamente masculino de então, nem na faculdade (onde foi a terceira mulher a se formar em engenharia civil no estado), nem no mercado de trabalho. Com voz que não denuncia a idade, 90 anos, Maria Eugênia conversou por telefone com a Comunicação do Confea, e sobre essas questões, admite simplesmente que “a qualidade profissional a ajudou a não ter que enfrentar barreiras ou preconceitos”.
A profissional com o registro mais antigo também não quis falar sobre o desenvolvimento ou características da engenharia nacional, nem comentar a atuação do Sistema Confea/Crea.
“Gostei muito de ensinar e ensino até hoje, na família”, confessa. Homenageada em 2009 com o Certificado de Reconhecimento aos colegas com mais de 50 anos de atividade profissional, pelo Crea-PE, Eugênia, discretamente confessa outro pioneirismo, no DER-PE, onde elaborou o primeiro projeto com levantamento aéreo da primeira estrada de concreto armado no estado.
Na tentativa de obter uma foto para ilustrar o registro de nosso bate-papo, perguntei a Maria Eugênia da possibilidade de me enviar a imagem por internet, e-mail. “Não transito nesse mundo”, afirmou. Insisti: “Deve ter algum sobrinho ou outro familiar que possa ir até a sua casa, vocês escolhem a foto e essa pessoa me envia”. Foi quando ela colocou mais dificuldades. “Isso é complicado”.
Mas posso procurar uma foto junto ao Crea-PE e publicar junto com esse nosso bate-papo?
“Pode sim, quem sabe eles têm”, disse ela, fazendo questão de ressaltar: “Sou de números, não de conversa”, dando a entrevista por encerrada.
Leia mais:
- Semana da mulher - Mulher mais jovem do Sistema Confea/Crea inicia trajetória profissional na próxima terça-feira
- Semana da Mulher: Presidente reeleita do Crea-PB destaca a força feminina
- Semana da Mulher: Região Norte tem maior participação de mulheres na área tecnológica
- Semana da Mulher - Confea tem pela primeira vez uma mulher em sua Vice-Presidência
- Mulher: a força motriz de uma sociedade sempre em construção
Maria Helena de Carvalho
Equipe de Comunicação do Confea