Mobilidade na formação profissional: um novo conceito

Brasília, 29 de março de 2006
 
Um novo conceito de mobilidade – baseado na qualidade da formação profissional que cria oportunidades - foi apresentado pelo eng. eletron. Luiz Carlos Scarvada do Carmo, decano do Centro Técnico e Científico da PUC-RJ,  durante a palestra que sob o título “Mobilidade na formação profissional das Américas”, iniciou na manhã de hoje a programação do dia do Encontro de Lideranças.
 
Aberto ontem em Brasília, no espaço Parlamundi, o Encontro que reúne cerca de 340 participantes, teve um dos momentos mais brilhantes na palestra de Scarvada – indicado pela Febrae (Federação Brasileira de Engenheiros) para coordenar o Comitê de Programa que definirá a temática da WEC 2008, Convenção Mundial de Engenheiros, programado para ser realizado em Brasília daqui a dois anos.
 
De maneira dinâmica, o decano defendeu um “conceito mais alargado” de mobilidade de países desenvolvidos em direção aos em desenvolvimento. “Profissionais bem preparados, com formação sólida, podem atrair investimentos nacionais e internacionais em pesquisa científica e tecnológica, abrir mercado de trabalho e  emprego”. Para ele, a qualidade na formação profissional pode ser garantida por um selo de qualidade que considere padrões internacionais e que no Brasil  pode vir a ter a chancela do Confea”, projeta.
 
“A fuga do cérebro dos grandes talentos  sempre existiu e existirá, cabe a cada país fazer com que a maioria de seus cérebros permaneça em seu território, como fazem China e Índia que alcançam taxas de desenvolvimento em torno de 10%, sequer sonhada pelo Brasil, que fica na América Latina e que por sua vez tem uma característica peculiar: não considera o conhecimento tecnológico fundamental para seu desenvolvimento”, constata Scarvada, lembrando “que o maior laboratório mundial da Microsoft está na China, onde as faculdades formam profissionais de altíssima qualidade”.
 
Ele alerta, no entanto, que o risco dessa estratégia é “transferir a liderança sobre o conhecimento, cuja cadeia, implica em culturas próximas, o que gera formação de regiões bem definidas, como a Europa”.
 
Diante desse quadro, Scarvada defende que a mobilidade enquanto “janela de oportunidades”, só pode ser garantida pela qualidade da formação profissional “e o Confea pode ser um dos pilares dessa mobilidade, interferindo na qualidade do ensino da engenharia no Brasil”. Para ele, “se a oportunidade estiver em nosso país, o profissional tende a permanecer aqui”.
 
Afirmando que a indústria brasileira deve se envolver na questão da formação profissional, que globalização não é novidade e que a cadeia produtiva gera a necessidade de oportunidade profissional através das fronteiras, Scarvada acredita que “a engenharia e a tecnologia são mecanismos de desenvolvimento econômico e social  que devem considerar a redução das desigualdades, aumento de competitividade da economia global e respeito ambiental,  objetivos defendidos pela ONU para o milênio”.
 
Para Scarvada, o desenvolvimento da América Latina depende da percepção da importância da educação e da tecnologia. “Mas não vejo preocupação do governo quanto a isso, só discursos, nenhuma ação concreta”.
 
Constatando novas formas de produção ligadas ao conhecimento e a tecnologia globalizada, o decano da PUC-RJ disse que “as Américas precisam imprimir competitividade em regiões supra-nacionais, como fazem a Europa e a Ásia. É necessário garantir o desenvolvimento local em resposta aos esforços de aumento da competitividade regional”.
 
Durante a palestra, Scarvada identificou que atualmente existem mais negócios sendo feitos entre empresas do que com o consumidor. “O comércio entre negócios cresceu absurdamente com a troca e a cadeia de informação que se estabeleceu nos últimos anos”.
 
Ao traçar o perfil do engenheiro com mobilidade, Scarvada citou que ele deve ter conhecimento técnico-científico, habilidades gerenciais, competências para trabalhar em equipe, ser um empreendedor, ter tendência a liderança e percepção de mercado, além de uma visão dos problemas locais e das questões mundiais. E alertou que esse profissional necessita aceitar novos hábitos inter-culturais “o que é dificílimo”, destaca.
 
Finalizando sua apresentação, o decano da PUC-RJ ensinou que “uma engenharia com mobilidade envolve escolas, indústrias, governo e sociedade civil – por meio do Confea – e a percepção de novas oportunidades”. Também lembrou que a realização da WEC 2008, no Brasil pode significar, além da projeção da engenharia brasileira, a conquista de novos parceiros no desenho de disciplinas internacionais.
 
Scarvada adiantou que como tema para o evento, que deve atrair perto de três mil profissionais de todo o mundo, defenderá a tecnologia voltada para o desenvolvimento sustentável econômica e socialmente”.

 
Maria Helena de Carvalho
Da equipe da Acom